A colecistite aguda alitiásica é uma doença inflamatória aguda da vesícula biliar, sem evidência de cálculos e com patogénese multifatorial. Observa-se sobretudo em pacientes com múltiplas comorbilidades ou estados de imunossupressão, encontrando-se associada a maior morbilidade e mortalidade, comparativamente com a entidade litiásica.Doente, género feminino, 50 anos de idade, com infeção recente por SARS-CoV-2 recorreu a teleconsulta por epigastralgia com irradiação dorsal, com quatro dias de evolução, associado a náuseas, com melhoria sintomática naquele dia. Solicitados estudo analítico, ecografia abdominal e endoscopia digestiva alta urgentes.A ecografia demonstrou “colecistite aguda alitiásica”. Referenciada ao serviço de urgência com consequente colecistectomia por laparotomia, após conversão de laparoscopia, revelando perfuração pilórica por espinha de peixe com inflamação vesicular por contiguidade.A colecistite aguda alitiásica representa 2% a 15% dos casos de colecistite aguda, ocorrendo sobretudo acima dos 60 anos e no género masculino. A doente em causa não apresentava o biótipo, as comorbilidades e a apresentação clínica típicos desta patologia. A infeção recente por SARS-CoV-2 levantou a suspeita de um papel etiológico, contraposto após a cirurgia. A ingestão de corpos estranhos é considerada comum, mas apresenta maioritariamente um curso benigno, com complicações em menos de 1% dos casos. A doente apresentava escassos fatores predisponentes à ingestão de corpos estranhos. Uma tomografia computorizada no período pré-cirúrgico poderia ter esclarecido a etiologia e contribuído para a orientação do procedimento.Eis um caso clínico de uma patologia invulgar, de etiologia rara, numa doente atípica, com um desfecho bem-sucedido, em plena pandemia COVID-19.