Análise microscópica do miocárdio ventricular esquerdo em cães soropositivos para cinomose

Abstract

Classificado no gênero Morbillivirus da família Paramixoviridae, o vírus da cinomose possui RNA de fita simples de polaridade negativa, é causador de doença multissistêmica, altamente contagiosa e grave dos cães e carnívoros selvagens, e com elevado índice de mortalidade em animais não vacinados ou com falhas vacinais. Com o objetivo de avaliar as alterações histopatológicas no coração, particularmente na região do miocárdio ventricular esquerdo, de cães naturalmente infectados com o vírus da cinomose, foram estudados 35 animais, de ambos os sexos e com idades variadas. Das 35 amostras enviadas ao Laboratório de Medicina Veterinária Preventiva do Hospital Veterinário de Uberaba, 100% (35/35) mostrou-se soropositivas para a cinomose (técnica de imunoensaio em fase sólida) e tiveram no miocárdio ventricular esquerdo as seguintes alterações histopatológicas: miocardite, degeneração hialina, hiperemia e hemorragia, com 42,8% (15/35), 31,4% (11/35), 14,3% (5/35) e 11,4% (4/35), respectivamente. Tendo utilizado o teste Qui-Quadrado com nível de significância de 0,05, conclui-se que existe alta correlação (p=0,02) entre os animais infectados com o vírus da cinomose e as alterações histopatológicas observadas no miocárdio ventricular esquerdo.

Distúrbios cardíacos secundários à cinomose

“…Conforme Nelson & Couto (2015), Rezende et al (2009) e Sykes (2013), a cinomose, uma doença com elevado índice de mortalidade em animais não vacinados ou com falhas na vacinação, apresenta sinais clínicos variando drasticamente, pois é altamente dependente da cepa do vírus, da idade e estado imunológico do hospedeiro, das condições ambientais, bem como de infecções concomitantes e/ou secundárias com outros vírus e bactérias. Nelson & Couto (2015), Birchard & Sherding (2008) e Sykes (2013) concordam que com grande frequência são observadas alterações oculares, respiratórias, gastrointestinais, cardíacas e neurológicas, sinais estes que podem aparecer isoladamente ou associados, e como a cinomose pode ser encontrada com outras doenças infecciosas, o diagnóstico pode ser dificultado.…”

“…Washabau & Day (2012) ressaltam que pode haver inflamação cardíaca em filhotes. Rezende et al (2009) ressaltam a importância em saber a etiologia e patogenia que desencadeia miocardite, para assim, estabelecer tratamento adequado aos pacientes. Rezende et al (2009) afirmam que, na infecção pelo vírus da cinomose, considerada uma virose também cardiotrópica, desempenha importante papel na patogenia da miocardite, geralmente como resultado de infecção hematógena do miocárdio, podendo desencadear assim, várias doenças sistêmicas, conforme também ressaltam Bastos et al (2007), sendo que a miocardite secundária à cinomose, muitas vezes, surge decorrente dos outros distúrbios cardíacos causados pela cinomose.…”

“…Conforme Araújo (2017), Mendonça & Coelho (2006) e Rezende et al (2009), a cinomose, assim como outras doenças virais cardiotrópicas, causa miocardite em várias espécies, geralmente como resultado de infecção hematógena do miocárdio. Segundo os autores, as miocardites podem incluir: completa resolução das lesões, cicatrizes miocárdicas residuais esparsas ou lesão miocárdica progressiva com insuficiência cardíaca aguda, ou ainda, em casos crônicos, como cardiomiopatia dilatada secundária.…”

“…Em seu estudo, Rezende et al (2009) concluem que há uma correlação positiva entre cães com cinomose e as alterações histopatológicas observadas no miocárdio ventricular esquerdo, pois na avaliação histopatológica do miocárdio ventricular esquerdo de 35 animais soropositivos para cinomose necropsiados no Laboratório de Patologia Animal da Universidade de Uberaba, 100% deles apresentam alterações cardiotrópicas: miocardite em 15 animais, representando 42,8%, degeneração hialina em 11 animais, representando 31,4%, hiperemia em cinco animais, representando 14,3%, e hemorragia em 4 animais, representando 11,4%. Greene et al (1993) mostram que cães neonatos, infectados com o VCC aos sete dias de idade, desenvolveram cardiomiopatia, com sinais clínicos que incluía dispneia, anorexia, colapso respiratório, depressão e prostração após duas semanas da infecção.…”

“…De acordo com Araújo (2017), Bastos et al (2007), Birchard & Sherding (2008) e Sykes (2013), o VCC é cosmopolita, altamente contagioso e infecta carnívoros. Rezende et al (2009) informam que na primeira metade do século XX, a cinomose foi uma das doenças cosmopolitas mais fatais entre cães, mas que, a partir dos anos 60, com as vacinas específicas, isso mudou. Ainda hoje, a mortalidade é comum entre animais não vacinados, ou os imunizados com falha vacinal.…”