Revisão"Can we improve a valve that has been molded by millions of years of flow and pressure in the cardiac chambers?" (Donald Ross 1995).Essa pergunta, exprimindo um momento de reflexão pessoal após três décadas de experiência, reflete um dos fundamentos básicos que justifica o emprego dessa alternativa terapêutica, como iremos demonstrar.A doença valvar aórtica isolada na criança é entidade relativamente freqüente 1 , predominantemente de natureza congênita e raramente de origem reumática. Seu espectro de apresentação clínica é amplo, representado num extremo por recém-nascidos sintomáticos nas primeiras horas de vida e, no outro, por adultos assintomáticos com sopro. Entre estas duas formas encontram-se casos de gravidade variáveis, sendo geralmente diagnosticados pelo achado de um sopro em crianças oligo ou assintomáticas. Na grande maioria dos pacientes, o quadro clínico predominante é de uma estenose aórtica valvar, devendo, entretanto, ser lembrada a possibilidade da presença de formas mais complexas de obstrução caracterizadas pela associação de lesões sub e supravalvares. Nas formas graves da doença valvar, os procedimentos rotineiramente utilizados para seu alívio (valvotomia com cateter-balão e comissurotomia cirúrgica) estão longe de promover a cura desses indivíduos, apesar da freqüente redução do gradiente ventrículo esquerdoaorta e diminuição da hipertrofia ventricular esquerda. Em virtude das lesões residuais uniformemente presentes após esses procedimentos, há necessidade de seguimento cuidadoso desses pacientes. Neste contexto, há freqüen-temente muita discussão em relação à escolha do segundo tipo de procedimento, usualmente necessário a médio prazo em virtude da gravidade das lesões.A experiência adquirida, principalmente nas últimas quatro décadas, em relação à esta entidade, revela que a busca de um substituto valvar ideal continua em franca discussão. Em virtude deste grau de dificuldade, tem-se como princípio terapêutico básico a tentativa de preservação da valva nativa através de procedimentos conservadores (plastias). A propósito, estudos recentes têm procurado demonstrar a viabilidade da plastia cirúrgica em função da morfologia valvar, preferencialmente, indicada nas valvas aórticas tricúspides 2 . Por outro lado, técnicas criativas têm procurado demonstrar a possibilidade de plastia valvar efetiva após valvoplastia com cateter-balão, independente da morfologia valvar, procurando, assim, manter a valva nativa por um período maior 3,4 . Este tipo de plastia conservadora tem sido também empregada com o uso de pericárdio bovino, além do emprego de técnicas especiais 5 . Entretanto, em virtude da gravidade da lesão, torna-se comumente necessária a substituição valvar, decisão esta que costuma envolver fatores variados. As próteses biológicas têm a vantagem de dispensar o uso de anticoagulantes, todavia, sua durabilidade é menor, levando à calcificação precoce e necessidade de retroca valvar o que, a longo prazo, inviabiliza seu uso em crianças. Por outro lado, as próteses mecânicas têm m...