Este artigo busca sugerir um conjunto de novos rumos para a investigação dos fenômenos ligados à introdução, difusão, adaptação, circulação, exploração e uso de animais de origem exótica entre os povos indígenas nas terras baixas sul-americanas, de modo a constituir um mais completo panorama dos impactos materiais e simbólicos desses seres nos contextos ameríndios. Partindo da coleta e análise de informações históricas e etnográficas acerca do aparecimento e da incorporação desses animais – a saber, galinhas, bois, cavalos, cabras, bodes, porcos, cachorros, gatos, coelhos, ratos, pombos e outros – nos mais distintos povos nativos na América do Sul, busca-se extrair uma (ou múltiplas) história(s) alternativa(s) desses adventícios, bem como compreender as linhas gerais que, fundamentadas na ideia de um pensamento ameríndio, podem caracterizar a adoção e aclimatação dessas espécies nas cosmologias e práticas sociais indígenas, configurando novas formas de conhecimento zoológico e mesmo zootécnico e veterinário, bem como construções singulares da domesticidade e de outros conceitos que usualmente descrevem as relações entre humanos e animais. Espera-se aliar os estudos em etnologia americanista com pesquisas antropológicas sobre relações entre humanos e animais, dois campos que, apesar da centralidade dos não humanos nas vidas e cosmologias indígenas, ainda pouco dialogam no campo etnológico americanista.