Resumo: Este artigo apresenta algumas linhas de força de um trabalho de observação etnográfica dos públicos-participantes num espetáculo de teatro: quem são eles, como ali chegaram, o que fazem e o que pensam deste processo? O espetáculo integrou um novo ciclo programático do Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa, e foi construído com um pequeno grupo de habitantes dos bairros dos Lóios e das Amendoeiras, em Marvila. Tendo como inspiração teórica as múltiplas genealogias do fenómeno da arte colaborativa e, no caso português, a pesquisa empírica de T. Lopes e S. Dias (2014), pretende-se analisar este processo de co-criação e discutir até que ponto se encontra influenciado pela proliferação das práticas artísticas colaborativas e pelas atuais formas de produção, difusão e espetacularização da cultura.
Palavras-chave: arte colaborativa, públicos-participantes, teatro, instituições culturais.Abstract: This article presents the main lines of an ethnographic observation study of the participant publics in a theatre performance: who are they, how did they get there, what do they do and what do they think of this process? The play is part of a new program cycle at the Maria Matos Municipal Theatre in Lisbon and was put together with a group of residents from the Lóios and Amendoeiras neighbourhoods in Marvila. With the theoretical underpinning of the multiple genealogies of the phenomenon of collaborative art, and in the Portuguese case, the empirical research of T. Lopes and S. Dias (2014), the aim of this work is to analyse the co-creation process and discuss the extent to which it is influenced by the proliferation of collaborative artistic practices and the ways in which culture is currently produced, diffused and performed.Keywords: collaborative art, participant publics, theatre, cultural institutions.
Contextualização, premissas e metodologiaNos últimos anos, temos vindo a assistir ao aparecimento de um importante núme-ro de instituições teatrais, artistas e profissionais da cultura organizados em torno de projetos que enfatizam o papel e a participação dos habitantes locais nas artes. Estes colaboram em seminários e atividades, workshops, sessões de trabalho, reuniões, ensaios e espetáculos, dando a sua opinião, contando histórias de vida pessoais e histórias locais. A arte e as suas práticas forjam, deste maneira, relações profundas com os mundos sociais e os seus intervenientes no território.