As diferentes narrativas alimentares do agronegócio

Abstract

Frente à ampliação global de problemas de saúde pública relacionados à alimentação, a literatura tem dispensado maior atenção ao estudo das múltiplas determinações que podem influenciar a transição a sistemas agroalimentares sustentáveis e saudáveis. Procurando contribuir com o debate, este artigo analisa as narrativas de diferentes agentes relacionados ao campo do agronegócio sobre duas agendas: a da segurança alimentar e nutricional (SAN) e a da alimentação adequada e saudável. O objetivo é examinar os modos como tais narrativas têm sido mobilizadas e modificadas, tanto para responder a críticas, quanto para legitimar posicionamentos sobre políticas públicas e propostas legislativas. O período abordado corresponde ao intervalo entre os anos 1990 e a década de 2020, e os materiais empíricos utilizados incluem documentos corporativos e estatais, manifestações públicas de agentes privados e políticos, e relatórios de organizações internacionais. Tais materiais são abordados com foco no agenciamento de categorias, nas variações discursivas provocadas pelas críticas e na heterogeneidade de representações do campo. Os resultados mostram que, ao perderem legitimidade quanto à agenda da SAN no país, representações dominantes das cadeias de commodities passam a privilegiar discursos sobre suas contribuições nas exportações desses produtos, ao passo que uma nova controvérsia ganha impulso, aquela que relaciona a alimentação à saúde.

O valor econômico do serviço de polinização na Região Metropolitana de Curitiba

“…A soja é geralmente cultivada em grandes áreas de monocultura, altamente impactadas pelo desmatamento, o que promove o declínio de espécies polinizadoras (Fearnside, 2001). A monocultura de grande escala é importante do ponto de vista do agronegócio, commodities e exportação, mas não necessariamente se compromete com a segurança alimentar brasileira (Pompeia & Schneider, 2021). Ainda, os impactos do déficit de polinizadores devem atingir mais os agricultores familiares do que grandes produtores (Novais et al, 2016).…”

Justiça alimentar

“…No caso, brasileiro, diante da diferença conceitual e cognitiva entre a dimensão política (the political) dos alimentos e a política dos alimentos (food politics), um fato notório é que no geral, o papel de destaque na política de alimentos é do agronegócio. A trajetória tem apontado a prevalência dos interesses e o poder da agricultura patronal na elaboração das políticas públicas; e o predomínio de suas narrativas [27,28] . E isso faz necessário questionar a dimensão mercantil dos alimentos, como parcial, e também indagar a que alimentação as commodities se conectam e o que a compõe.…”

Deficiências nutricionais e iniquidades em municípios do estado de Mato Grosso, Amazônia brasileira: 2007 a 2021

“…Além disso, o agronegócio e a economia agroalimentar globalizada têm gerado aumento da ocorrência de doenças crônicas não-transmissíveis (além do crescimento da grave insegurança alimentar), provocando uma epidemia de agravos relacionados à alimentação. Logo, percebe-se que não há associação entre aumento da produção de commodities agropecuárias e diminuição de problemas de saúde referentes à alimentação 41 .…”