Em função do acirramento de disputas fundiárias e conflitos socioambientais, em anos recentes, agentes do campo do agronegócio no Brasil impulsionaram, de modo organizado e sistemático, sua concertação política. Argumenta-se, no presente artigo, que esse processo de orquestração engendrou um novo padrão de representatividade nesse campo, mais apto a operar no âmbito de questões amplas, como a ambiental, a indígena e a trabalhista. Propondo um conceito para caracterizar esse padrão, o artigo historiciza o movimento de aproximação política entre tais agentes, aborda seu aparato de justificação, examina conflitos entre eles e investiga os dispositivos que empregam para racionalizar o tratamento das divergências e promover acordos. A pesquisa é fundamentada em oito meses de trabalho de campo, sobretudo no Instituto Pensar Agropecuária, no Congresso Nacional e na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
Resumo Este artigo analisa simulações relacionadas à proposição “agro é tudo”, estratégia destacada de legitimação de agentes do agronegócio. Elas são produzidas por meio de operações para que se confundam partes com totalidades, ou, mais especificamente, para que se tomem esses agentes pelo amplo perímetro de funções agroalimentares abrangidas no conceito de agribusiness. É por essa razão que essas operações são tão mais eficazes quanto mais indistintas as dimensões analíticas e políticas do campo do agronegócio. Contrastando o conceito, de um lado, e o conjunto de atores políticos desse campo, de outro, o texto analisa os agenciamentos e os efeitos dessas simulações em três casos empíricos envolvendo, a saber, a agricultura familiar, estatísticas macroeconômicas e campanhas midiáticas. As fontes são 35 entrevistas com atores relacionados ao agronegócio, obras contendo suas justificações, documentos com seus pleitos, peças publicitárias, materiais da imprensa e discursos presidenciais.
Resumo Com retrocessos se acumulando no Brasil em relação às questões climáticas e indígenas, especialistas em temas socioambientais têm procurado identificar fatores e agentes que operam para dar sustentação a esse quadro. Um dos principais atores apontados na literatura científica é a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), um bloco multipartidário com poder em ascensão no Congresso Nacional. Este artigo apresenta uma etnografia do núcleo estratégico no qual se negociam e se definem os posicionamentos oficiais da FPA: o Instituto Pensar Agropecuária (IPA). O primeiro objetivo é analisar os três conjuntos de atores que operam no âmbito do IPA: organizações empresariais, agentes técnicos e parlamentares da mesa diretora da FPA. O segundo é examinar como essa engrenagem tripartite é operacionalizada. O trabalho está baseado em observação participante no IPA e no Congresso Nacional, em entrevistas com agentes privados, técnicos e políticos que integram o instituto e em documentos corporativos e estatais. Os resultados indicam que a consolidação do IPA inflexionou de maneira expressiva a representação de interesses das elites dos sistemas alimentares que operam no país.
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