As jornadas de maio em Goiânia: para além de uma visão sudestecêntrica do junho brasileiro em 2013

Abstract

Resumo O ano de 2013 apresentou, no Brasil, formas de contestação social que oferecem instigantes problemas à ciência política. Este artigo se situa nesse contexto para se dedicar à compreensão, mediante um estudo de caso, da Frente de Luta do Transporte Público (FLTP) na cidade de Goiânia. A indagação condutora da pesquisa é a seguinte: o que se pode inferir, a partir do caso da FLTP, sobre as mais comuns generalizações atinentes ao local dos acontecimentos, às demandas expressadas e à relação entre ativismo e repressão nos protestos que tiveram lugar no Brasil em 2013? Tal ampla questão é articulada em três eixos, nomeadamente: a relação entre o caso estudado e as tensões de ordem colonial que contrapõem o centro brasileiro, situado no Sudeste, às localidades periféricas, como o Centro-Oeste (i); a relação entre a FLTP e os outros movimentos ou partidos, em especial quanto à coesão ou ao foco das demandas pleiteadas (ii); e a relação da FLTP com o aparato coercitivo e penal-persecutório do Estado (iii). O artigo encerra um estudo de caso baseado na metodologia da pesquisa-ação. O seu principal resultado é a refutação de três generalizações comuns sobre os protestos brasileiros de 2013, atinentes ao local onde se iniciaram, às demandas apresentadas e à relação entre as manifestações e a repressão policial.

Back to the Future: Changing Repertoire in Contemporary Protests

“…The Brazilian 2013 cycle of protests was triggered by demonstrations against an increase in public transport charges in the city of São Paulo, which evolved into a plural and complex process of contention, addressing diverse issues such as the impact of mega‐sports events, the quality of public services, the brutality of the police and corruption in the country (Maricato, 2013; Ricci and Arley, 2014; Singer, 2014; Bringel and Pleyers, 2015; Losekann, 2015; Avritzer, 2016; Tavares, Roriz and Oliveira, 2016; Mendonça et al, 2019). This cycle of protests was triggered by a movement coming from an autonomist tradition – the Free Fare Movement (FFM) (Liberato, 2006; MPL, 2013; Ortellado, 2013).…”

Ciências Sociais Hoje: Ciência Política

“…Por exemplo, diversos trabalhos recentes analisam o ciclo de protestos políticos que se intensificou no Brasil em junho de 2013, tendo como foco suas origens, características, atores e legados (Tatagiba, 2014;Bringel;Pleyers, 2015;Augusto;Rosa;Resende, 2016;Roriz;Alonso, 2017;Gohn, 2017;.…”

Treze: a política de rua do PT pelo olhar paulista

“…Alonso (2023) identifica a emergência dos movimentos de 2013 de uma maneira incomum se comparada com a literatura e a cobertura jornalística da época, que miram nos atos desenvolvidos na avenida paulista com forte reação policial. Salvo algumas exceções (Tavares;Roriz;Oliveira, 2016), essa versão tornou hegemônica. A ideia clara é a de que, a partir de São Paulo, os protestos -até então esparsos -espalharam-se pelo país.…”