O artigo em questão propõe uma reflexão sobre as práticas com os materiais no campo do design a partir da construção de uma MAterioteca virtual -um acervo de materiais (DANTAS E BERTOLDI, 2016) para o reconhecimento de saberes artesanais do Maranhão. Ao tecer um diálogo com o antropólogo britânico Tim Ingold (2011), acionamos os conceitos de conhecimento classificatório e conhecimento narrativo vinculados à noção de saber tácito (SPINUZZI, 2005) a fim de especular sobre a decolonialidade de saberes (TUNSTALL, 2013) e práticas orientadas para o pluriverso (ESCOBAR, 2016), tópicos estes que servem ao exercício de análise sobre a metodologia empregada e os resultados materializados no acervo. Por fim, elabora possibilidades pluriversais nas relações travadas com os materiais em via de exercitar a valorização de uma multiplicidade de conhecimentos e ontologias.
palavras-chave:MAterioteca; artesanato; conhecimento narrativo; saber tácito; pluriverso
IntroduçãoEste artigo apresenta reflexões sobre o processo de construção de uma MAterioteca 1 vinculada ao Núcleo de Pesquisas em Inovação, Design e Antropologia (NIDA) da Universidade Federal do Maranhão, no que tange à produção, intercâmbio e divulgação de conhecimentos acadêmicos em diálogo com conhecimentos tácitos, retomando a questão do design em diálogo com o artesanato.No curso de onze anos de pesquisa em comunidades produtoras de artesanato no Maranhão, realizadas pelo NIDA, foram percebidas diversas lacunas e potencialidades nas dezesseis cadeias produtivas mapeadas, como a da produção de louças em Itamatatiua, o tear da fibra de buriti em Santa Maria, o fazer das caretas de cazumbá em Matinha, entre muitas outras. O percurso de trabalho colaborativo estabelecido pelo núcleo foi responsável por trazer à tona uma série de empecilhos relacionados à comercialização dos produtos artesanais, como a carência de formas de divulgação realizadas por meio da tecnologia, como registramos em publicações anteriores (NORONHA, 2011;NORONHA, 2015;NORONHA et al 2017). Tais lacunas evidenciaram a importância de táticas que busquem facilitar a comunicação entre potenciais consumidores, majoritariamente urbanos e tendo as tecnologias da informação ao seu dispor, com estas comunidades criativas locais (MANZINI, 2017), aumentando, dessa forma, a comercialização dos artefatos e a ampliação do intercâmbio entre saberes e fazeres, mobilizando a etapa de logística referente às cadeias de valores, conforme disposto em nossa recente publicação (SILVA et al, 2020).Além de implicar num estreitamento espacial, a criação de plataformas digitais que facilitem o comércio de produtos artesanais também possui o poder de funcionar de modo a dar maior visibilidade às formas de saberes tradicionais do território maranhense. O projeto de construção da MAterioteca, isto é, um acervo virtual para divulgação de amostras de materiais, processos e produtos artesanais do Maranhão, conforme caracterizam as autoras Dantas e Bertoldi (2016), deve levar em consideração que as pessoas acessem facilmente a amostra...