EditorialO ponto de partida para o diagnóstico e tratamento de lesões pré-malignas do colo do útero é, quase sempre, um resultado anormal da citologia. Em programas de rastreamento para o carcinoma de colo aproximadamente 5% dos esfregaços citológicos são considerados indicativos de lesões causadas pelo papilomavírus humano ou sugestivos de lesões pré-neoplásicas, sendo considerados positivos. Entre estes, cerca de 0,1% indicam a presença de carcinomas invasores, 0,4 a 0,5% sugerem lesões de alto grau e 1 a 2%, lesões de baixo grau. Em 2 a 4% dos esfregaços, o laudo conclui pela presença de células escamosas atípicas. No entanto em muitas séries de casos e em listagens de laudos de laboratórios a porcentagem de casos com este diagnóstico pode chegar a 10% das amostras analisadas 1,2 .Pelo fato de representarem a alteração citológica mais comum, os casos com diagnóstico citológico de células escamosas atípicas são responsáveis pela maior parte dos custos envolvidos na investigação das mulheres com citologia alterada (colposcopia, biópsias, tipagem viral e outras intervenções). É importante lembrar que, após investigação apropriada, apenas uma minoria dos casos apresentam, de fato, neoplasias intra-epiteliais (NIC I, II e III). No entanto, como vimos, os esfregaços com estes achados (ASCUS na classificação 1988 de Bethesda) correspondem à soma de todos os outros diagnósticos citológicos relevantes do ponto de vista oncológico e entre eles estão, portanto, quase a metade de todas as lesões de alto grau comprovadas histologicamente 3 . Por estes motivos é importante padronizar tanto os critérios para diagnóstico como as condutas para estes casos.Quanto à padronização dos critérios, é conhecida a baixa reprodutibilidade do diagnóstico de células escamosas atípicas 4 . Quando se efetua revisão das lâminas com achados positivos ou suspeitos, as que apresentavam inicialmente o diagnóstico de células escamosas atípicas contribuem com o maior contingente de mudanças nos laudos. Neste processo, a maior parte dos casos anteriormente classificados como "presença de células epidermóides atípicas" são reclassificados como normais 1,5 . Uma conseqüência da baixa reprodutibilidade é que a porcentagem de casos com este diagnóstico citológico varia muito entre os diferentes laboratórios que atendem a mesma população.O trabalho de Rangel da Veiga et al. 6 publicado neste fascículo mostra uma experiência em grande centro urbano nacional com casos com o diagnóstico de células escamosas atípicas sem outras especificações. Uma característica positiva desta série de casos é que emprega laudos citológicos provenientes de um só laboratório, que por sua vez aplica critérios padronizados para os diagnósticos e emprega procedimentos de controle de qualidade. Ambas a circunstâncias atenuam o já conhecido erro interobservador inerente a este diagnóstico. Além disto os casos foram encaminhados após o segundo resultado com o mesmo achado, o que também concorre para a melhora do valor preditivo positivo. Após a investigação com colposcopia, bióps...