A fala de migrantes em situação de contato dialetal tem sido preterida em estudos sociolinguísticos de vertente variacionista, que costumam privilegiar a fala de pessoas nascidas e criadas localmente. Tendo em vista a mobilidade populacional e a realidade sociodemográfica de muitas comunidades brasileiras, este artigo tem o duplo objetivo de (i) apresentar pesquisas realizadas pelo Laboratório VARIEM (UNICAMP) sobre a fala de migrantes nordestinos residentes no estado de São Paulo, as quais, em conjunto, já permitem traçar algumas generalizações sobre o papel das variáveis Gênero, Idade de Migração e Tempo de Residência nos processos de variação e mudança na fala de migrantes; e (ii) mapear lacunas e questões pendentes, a fim de delinear uma agenda de pesquisa para os estudos sociolinguísticos sobre contato dialetal. Argumenta-se que se faz necessária a análise da fala de migrantes, da mobilidade sociodemográfica e do contato dialetal para um quadro mais completo da Teoria da Variação e da Mudança (Weinreich et al, 2006 [1968]) e que, não obstantes os desafios que circundam o tema, a metodologia de análise variacionista se mostra particularmente adequada para a observação dos complexos padrões de variação na fala de migrantes.