Ainda hoje, a historiografi a do absolutismo (na França, mas não exclusivamente) é fortemente marcada por uma oposição entre o "absolutismo teórico" e o "absolutismo prático". Para alguns, a existência dessa teoria do poder monárquico não deixa nenhuma dúvida, como atestado pelos escritos dos jurisconsultos dos quais o mais célebre, Cardin Le Bret, propõe uma versão acabada. Para outros, a existência de um tal poder, que se quer "absoluto", é desmentida pelos fatos, estando a monarquia incapacitada de se libertar das restrições inerentes à sociedade do Antigo Regime. O poder real absoluto encontra muitos obstáculos para se afi rmar. O "absolutismo limitado" seria, assim, a forma prática de uma teoria que conheceu apenas uma aplicação imperfeita. Se essas duas posições difi cilmente parecem compatíveis, parece, no entanto, necessário articular teoria e prática a fi m de apresentar uma versão coerente desse conceito. Desse modo, toda a questão do equilíbrio dos poderes políticos está em jogo, bem como os modos de justifi cativa e o processo de elaboração de uma autoridade que busca se dotar dos meios de sua doutrina.Tentar entender o sentido desse termo, nascido quando morria o regime que ele qualifi cava, implica ligar história e historiografi a. Trata-se, fi nalmente, de traçar as formas de um objeto histórico tão discutido, constantemente atacado e algumas vezes celebrado, retomando o trabalho da monarquia sobre si mesma, segundo a feliz expressão de Denis Richet (1991, p. 425-450). A uma teoria que justifi ca práticas de governo responde a prova dos fatos, a saber, o exercício de um poder cuja legitimidade deve ser constantemente reafi rmada.