Resumo: O interesse desse texto é discutir o silêncio dentro da perspectiva da Análise do Discurso de formulação pecheuxtiana e observar o seu funcionamento na constituição das bibliotecas comunitárias, usadas como corpus dessa pesquisa. O objetivo é marcar um distanciamento da visão de espaço de ausência que muito ainda circula como representativo acerca do silêncio, instaurando uma perspectiva outra que o observa como múltiplo e repleto de sentidos.Palavras-Chave: silêncio; bibliotecas comunitárias; sentidos.O silêncio é o luxo das palavras, sendo necessário ouvi-lo. A palavra dita, inevitavelmente, oculta outras tantas que deixaram de ser proferidas. Essa reflexão da escritora Clarice Lispector (1998) dialoga ricamente com o conceito de silêncio abordado nessa discussão, que é aquele pensado nas teias teóricas da Análise do Discurso de formulação pecheuxtiana.A comunicação e a linguagem são atravessadas pela incompletude (PÊCHEUX; GADET, 2011), não raro, observa-se a circulação da noção de silêncio como aquele que é absolutamente ausente de significados e que apenas compreende a falta do dizer, o que corrobora para seu entendimento como sinônimo de vazio. Com os estudos de Eni Orlandi (1997) estabelece-se uma importante (e outra) forma de pensar o silêncio: não mais uno, no singular, mas sim, plural; dessa forma, temos os silêncios, visto que se "as palavras são múltiplas [...] os silêncios também o são" (Ibid., p. 29) e também são carregados de significados e sentidos. Dessa maneira, não cabe uma observação do silêncio como sinônimo de vazio, mas sim, como um espaço de horizonte na linguagem (Ibid.).De acordo com Orlandi (1997), temos o silêncio fundador ou fundante e a política do silêncio. Compreendido como aquele que atravessa as palavras, o silêncio fundador existe entre elas e indica que o sentido pode sempre ser outro, isso tudo justifica a titulação de espaço fundador da linguagem (Ibid.). A política do silêncio diz respeito ao entendimento de que o sujeito apaga sentidos outros ao enunciar, sendo esse um preço inevitável do processo discursivo. Esse conceito é desmembrado em duas pequenas especificações: i) o silêncio constitutivo que "preside qualquer produção de linguagem" (Ibid., p. 75); e o ii) silêncio local, compreendido como o procedimento de interdição do dizer do sujeito, no caso a censura, no qual ocorre a proibição da circulação de determinados sentidos (Ibid.).Historicamente, observa-se o silêncio apresentado como algo constitutivo das bibliotecas, tendo sua existência marcando-as como ponto identificatório da Antiguidade até os dias atuais, nos quais o silêncio é observado dentro de uma Esse texto é um recorte do TCC "Bibliotecas Comunitárias em Discurso" (2010).