Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.1 Universidade Federal Fluminense. Departamento de Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Ensino. Campus de Santo Antônio de Pádua. Av. João Jasbick, s/n, Bairro Aeroporto, 28470-000, Santo Antônio de Pádua, RJ, Brasil.
O ditado The dictationMitsi Pinheiro de Lacerda 1 mitsipinheiro@id.uff.br
Universidade Federal FluminenseRESUMO -Neste artigo, é comunicado um estudo que tomou, como ponto de bifurcação, uma prática escolar: o ditado. O ditado é fartamente encontrado em práticas pedagógicas cotidianas, em materiais didáticos e também incluso em orientações destinadas à formação continuada docente. O objetivo do estudo foi buscar, junto a sujeitos escolarizados, contribuições que ajudassem a compreender esta prática escolar tão usual e persistente. Sua disseminação e a alta frequência de sua ocorrência legitimam sua existência, fazendo com que, junto a tantas outras práticas escolares, sobreviva sem muitos questionamentos. O desenvolvimento deste estudo contou, em seu delineamento metodológico, com algumas orientações advindas da História Oral e também com a busca, em sites da Internet, de textos instrucionais e postagens livres que tomassem, como referência, o ditado. As referências teóricas presentes são advindas de Bakhtin, Certeau e Foucault. Os resultados do estudo apontam que o ditado seria um dispositivo didático, através do qual se manifestaria uma materialidade expressa (a atividade em si) e diversas linhas mutantes que se mostrariam enquanto conformidade, escape, capitalização e tantas outras. Caberia à professora e suas crianças empreender a conversão deste dispositivo, de forma a suprimir o que não as favorece, pois os sujeitos da prática podem tecer novos sentidos para algo deliberadamente produzido para os regular.Palavras-chave: ditado, dispositivo, técnica de ensino.ABSTRACT -This article reports a study about a school practice: dictation. It is widely found in everyday teaching practices, in teaching materials and teaching guidelines in continuing education. The aim of the study was to understand this usual and persistent school practice. Its spread and high frequency of occurrence legitimize its existence, so that, along with many other school practices, it survives without questioning. The development of this study involved, in its methodological design, some principles of Oral History on how to interview participants, as well as a search, on the Internet, for instructional texts and free posts that make reference to dictation. The theoretical references came from Bakhtin, Certeau and Foucault. Results show that dictation can be considered a teaching device, which manifests both an explicit materiality (the activity itself) and various different lines that would show themselves as obedience, escape, capitalization and many others. Only the teacher and his/her students would...