O MANEJO DA PACIENTE CLIMATÉRICA, vem se tornando, nas últimas décadas, tema relevante e de grande interesse tanto em termos epidemiológicos e de saúde pública quanto da investigação científica médica. Isto se deve, em grande parte, a progressiva melhora da expectativa de vida dos indivíduos, permitindo prever que a população feminina possa viver ainda cerca de um terço de suas vidas após a menopausa. Embora a expectativa de vida ao nascimento seja muito variável em diferentes países, para a mulher, aos 50 anos, esta é constante ao redor do mundo, com uma amplitude em torno de 27 a 32 anos [1]. Estudos demográficos indicam que, em 1990 havia cerca de 467 milhões de mulheres com 50 anos ou mais, distribuídas pelo mundo. As projeções para 2030 estimam um aumento para 1200 milhões de mulheres nesta faixa etária [2].O primeiro e ainda hoje mais freqüente motivo para prescrição da terapia de reposição hormonal (TRH) é o alívio dos sintomas do climatério. A síndrome climatérica, reconhecida como tal desde o início do século XIX, só começou a ter sua etiologia esclarecida a partir de 1924, quando pela primeira vez se extraiu e caracterizou um "hormônio ovariano" (3). Um conjunto de sintomas está associado a esta síndrome (4), alguns podendo se iniciar já antes da menopausa mas, com freqüência ocorrendo após a mesma. Os sintomas variam significativamente para cada mulher, podendo algumas permanecer assintomáticas. Os mais prevalentes são os sintomas vasomotores, como os fogachos e sudorese excessiva, comprometendo a qualidade de vida de cerca de 50% das mulheres pós-menopáusicas. Relacionam-se com insônia, irritabilidade e depressão. Há variabilidade individual na tolerância aos mesmos, mas 15-25% das mulheres procuram aconselhamento e tratamento médicos. A médio prazo, o hipoestrogenismo resulta em atrofia urogenital e produz sintomas como prurido vulvar, dispareunia e algopareunia, sensação de secura vaginal, polaciúria e incontinência urinária. Essa atrofia também contribui para a incidência aumentada de infecções urinárias, vulvovaginites e distopias genitais nas mulheres climatéricas (5,6).Está bem estabelecido que os sintomas do climatério estão diretamente relacionados à redução dos níveis de estrogênios e que a reposição hormonal alivia acentuadamente esses sintomas num número expressivo de pacientes, embora estudos randomizados tenham também identificado um efeito placebo não negligenciável (7,8). Considera-se, portanto, que a TRH beneficia amplamente as pacientes que sofrem a síndrome climatéri-ca e que contribui para a melhoria da qualidade de vida dessas mulheres. Por outro lado, a TRH pode ser continuada para prevenção de outras doenças, como a osteoporose e doença cardiovascular.Neste número dos "Arquivos", Wygoda e colaboradores (9) apresentam os resultados do seguimento a curto prazo de pacientes pós-menopáusicas em tratamento de reposição hormonal. Aspectos relevantes da monitorização do tratamento no período de ajuste da dose são salientados e merecem comentários.