Caracterização paleoambiental a partir de microfácies carbonáticas da Formação Itaituba (Pensilvaniano Inferior da Bacia do Amazonas), no município de Itaituba (PA)

Abstract

Visando a interpretação e a inferência dos paleoambientes de duas sucessões carbonática pertencente à Formação Itaituba (Pensilvaniano da Bacia do Amazonas), que aflora às margens do Rio Tapajós, SW do Estado do Pará, estudos petrográficos voltados à caracterização e identificação de microfáceis sedimentares foram realizados a partir da análise de 50 seções delgadas. A análise petrográfica foi desenvolvida de acordo com a metodologia padrão para estudos desta natureza, envolvendo, essencialmente, a classificação das rochas carbonáticas, a caracterização e a individualização de microfácies. Como resultado destas análises foram identificadas nove microfácies: Mudstone com evaporitos (Me), Wackestone com terrígenos (Wt), Wackestone com quartzo autigênico e fitoclastos (Wqf), Wackestone com braquiópodes e crinóides (Wbc), Packstone com braquiópodes (Pb), Grainstone com braquiópodes (Gb), Grainstone com fusulinídeos (Gf), Grainstone com aglutinantes (Ga) e Boundstone com intraclastos (Bi). Destas microfácies, foram distinguidas quatro microbiofácies, baseadas nos trends e análise dos bioclastos, e cinco associações de grãos não-esqueletais, fundamentadas no significado sedimentológico destes grãos. A partir disto, foram interpretadas cinco associações de microfácies (AMF) representativas de sistemas deposicionais distintos: AMF-01) sabkha, AMF- 02) planície de maré, AMF-03) laguna, AMF-04) canais de maré e AMF-05) barras bioclásticas. Estas associações de microfácies indicam um modelo deposicional de plataforma carbonática em rampa, com o desenvolvimento de um sistema deposicional marinho raso, dominado por sedimentação carbonática, influenciado por maré, sob regime climático dominante de clima semiárido e temperatura da massa d’água variando de temperada a quente.

Microfácies de carbonatos pensilvanianos da Formação Itaituba (Grupo Tapajós) no norte da Bacia do Amazonas, Urucará (AM)

“…Sabkha (Zona 1) -remetem a uma área de deposição na porção superior da planície de maré predominantemente exposta e sujeita a inundações periódicas (Silva et al, 2015;Adabi et al, 2016;Scomazon et al, 2016;Beigi et al, 2017;Neves et al, 2019).…”

“…Laguna semi -restrita (Zona 3) -área de deposição em zonas rebaixadas permanentemente inundadas na inframaré, com águas calmas e circulação restrita a semi-restrita (Lima, 2010;Neves et al, 2019;Silva, 2019) Domínio 3…”

“…Apesar de ser comum canais de marés seccionando essa zona faciológica, não foram constatados microfácies influenciadas por fluxo bidirecional, tampouco geometrias erosivas em afloramento como os observados por Silva et al (2015). Entretanto, a baixa diversidade fossilífera, representada apenas por crinoides e braquiópodes, a abundância de peloides fecais da MF5 e feições de exposição apontam para o posicionamento na zona faciológica de planície de maré (Moutinho et al, 2016;Neves & Barbosa, 2019). Processo de dolomitização em cristais finos, comuns nessa zona faciológica, aliado a precipitação de evaporitos e silicificação, semelhantes aos descritos na zona 1, reforçam essa interpretação (Mohseni et al, 2016;Vinci et al, 2017;Xiong et al, 2018).…”

“…Rochas carbonáticas representam importantes fontes de dados para compreensão e caracterização paleoambiental do planeta, pois as condições que controlam a precipitação de sedimentos bioquímicos são diretamente afetadas por fatores externos como pressão, temperatura, pH, salinidade e outros (Cambier, 2011;Seibel & James, 2017;Tucker & Dias-Brito, 2017, Neves & Barbosa, 2019. Adicionalmente, estudos em carbonatos podem auxiliar no estabelecimento de zonas faciológicas que são fundamentais para reconstruções paleogeográficas e evolutivas de plataformas carbonáticas (Wilson, 1975;Tucker & Wright, 1990;Flügel, 2004) e podem ter implicações na qualidade de reservatórios de hidrocarbonetos associados a essas rochas (Riccomini et al 2012;Okubo, 2014;Favoreto et al 2016).…”

“…Na Bacia Sedimentar do Amazonas ocorrem representativas exposições de rochas carbonáticas Pensilvanianas relacionadas a Formação Itaituba (Grupo Tapajós), interpretada como de ambiência lagunar a marinho raso (Figueiras, 1983;Matsuda, 2002;Matsuda et al, 2004Matsuda et al, , 2010Scomazzon & Lemos, 2005;Lima, 2010;Máximo, 2012;Silva et al, 2015, Moutinho et al, 2016Neves & Barbosa, 2019;Silva, 2019). Grande parte dos trabalhos citados apresenta considerações microfaciológicas e conotações paleoambientais baseadas essencialmente em informações da borda sul da bacia, enquanto que exposições desta unidade na borda norte continuam praticamente inexploradas por conta das dificuldades logísticas da Amazônia, como por exemplo ausência de amplas exposições ao longo das drenagens e menor densidade de minas da indústria de cimento.…”