A hérnia da parede abdominal é uma entidade clínica de elevada prevalência, tanto na população adulta como infantil 1 , estimada entre 3% a 8%, sendo cinco a seis vezes mais comum no sexo masculino. Cerca de 75% de todas as hérnias ocorrem na região inguinal. As hérnias incisionais e ventrais representam aproximadamente 10% de todas as hér-nias e as femorais, apenas 3%. As hérnias incomuns são responsáveis por 5% a 10% dos casos restantes.A hérnia e seu reparo cirúrgico são um capítulo extensamente estudado e de profundo interesse por parte dos cirurgiões 2 . As correções estão muito distantes de um consenso entre os cirurgiões, havendo muitas divergências mesmo entre as grandes escolas médicas.O marco na correção das hérnias deve ser atribuído a Edoardo Bassini (1844 -1924) : aproximação e sutura, em tripla camada, do músculo oblíquo interno, transverso e fáscia transversal ao ligamento inguinal. Bassini já realizava abertura ampla da fáscia transversal em toda sua extensão, antes de se efetuar a sutura do assoalho inguinal 6 . Shouldice apenas disciplinou a técnica original de Bassini, ao realizar a sutura estratificada em vários planos.Mais recentemente, se popularizou a abordagem posterior pré-peritoneal das hérnias inguinais, revivida e preconizada por Nyhus (epônimo: operação de Nyhus 7 ). Na década de 90, houve modificações revolucionári-as no tratamento das hérnias inguinais. A introdução do conceito de herniorrafia com livre tensão deu espaço aos reparos baseados na colocação de telas (Lichtenstein, "Mesh Plug", Nyhus e reparo laparoscópico).A partir de 1946, após estudos experimentais, foi introduzido na prática médica o uso de próteses metálicas, como o tântalo e, posteriormente, o aço inoxidável. A fragmentação destes materiais, no entanto, com risco de penetração em vasos e nervos, e a eventual migração destes para outras partes do organismo, limitou o uso desta técnica, encorajando pesquisas com outros materiais, como o náilon, o polietileno, o polivinil, o dácron e o téflon. Esses materiais, todavia, associaram-se a um maior índice de infecção e rejeição. O polipropileno monofilamentar, material inerte com baixo índi-ce de infecção e fistulização, é o material preferido pela maioria dos cirurgiões.As próteses, tanto biológicas como artificiais, foram inicialmente utilizadas para apoiar um reforço realizado pela técnica convencional. O cirurgião, ao não se convencer da resistência do reforço, optava por complementá-lo usando uma prótese. Esta conduta, portanto, era excepcional 8 . Na década de 60, chamava-se à atenção para o risco de recidiva da hérnia, caso a sutura fosse feita sob muita tensão, mesmo com o uso de prótese. Para eliminar a tensão local, Usher et al., 1960, preconizaram a utilização da prótese,