Este estudo teve como objetivo investigar a ocorrência de afecções respiratórias em crianças expostas à poeira de resíduos de mineração após o desastre do rompimento da barragem em Brumadinho, Minas Gerais, Brasil. A população de estudo incluiu crianças com idades entre 0 e 6 anos, residentes em três comunidades expostas à resíduos de poeira de mineração (Córrego do Feijão, Parque da Cachoeira e Tejuco) e uma comunidade não exposta (Aranha). A coleta de dados ocorreu entre 19 e 30 de julho de 2021, por meio de questionários que abordavam informações sociodemográficas e um inquérito recordatório sobre sinais, sintomas e doenças respiratórias. Foram avaliadas 217 crianças, sendo 119 das comunidades expostas e 98 da comunidade não exposta. Os residentes nas comunidades expostas relataram aumento na frequência de faxina em suas residências (p = 0,04) e no tráfego de veículos (p = 0,03). Entre as crianças de 4 anos, foi observada uma maior frequência de afecções das vias aéreas superiores (p = 0,01) e inferiores (p = 0,01), bem como de alergia respiratória (p = 0,05). O grupo exposto apresentou 1,5 vez mais relatos de alergia respiratória (75%; p = 0,02) em comparação com o não exposto (50,5%). Crianças que viviam nas comunidades expostas à poeira de resíduos apresentaram três vezes mais chance (OR ajustada = 3.63; IC95%: 1,37; 9,57) de ocorrência de alergia respiratória em comparação com as não expostas. Dois anos e seis meses após a ocorrência do desastre ambiental, as crianças das comunidades afetadas pelos resíduos das atividades de mineração e remediação permaneciam expostas à poeira com efeitos tóxicos sobre a saúde respiratória.