Tomando o conflito como um dado da vida social, esse trabalho procura entender de que maneira ele, na sua forma de violência e criminalidade, se mistura ao cotidiano da cidade de São Paulo, provocando a pergunta: a violência pertence à regra ou é da ordem da exceção? A leitura espacializada do fenômeno construída pelos dados de homicídios no Brasil e em São Paulo, a etnografia de um bairro da Zonal Sul de São Paulo, e os dados sobre jovens cumprindo medidas sócio-educativas, são os pontos de partida para refletir sobre os altos níveis e as modalidades de violência empreendidas na sociedade brasileira. A pesquisa permite acompanhar como a violência entre e sai da vida de pessoas que não têm nenhum tipo de vínculo formal com a criminalidade organizada, as vezes com uma sutileza perversa, acionando praticamente todas as esferas da vida em comunidade a ponto de ser tomada como um grande pano de fundo para a própria existência. São evidenciados os limites da justiça e do aparato democrático num contexto de vulnerabilidade, as redes que amparam o envolvimento com o crime, e a privatização, em múltiplos sentidos, da segurança que empresta novos significados às idéias de contenção e repressão. As estratégias para enfrentála, as mudanças nas relações e interações entre os atores sociais, bem como suas constantes negociações, revelam uma cosmologia interna e partilhada, capaz de naturalizar a violência.