IntroduçãoUma das principais questões de investigação da sociologia política é estudar a relação entre as características de estratificação social e as tendências e padrões de votação em partidos que estão competindo em eleições. Neste artigo analisamos a relação entre a estrutura de classes, os padrões de mobilidade social dos eleitores e a declaração retrospectiva de voto no segundo turno da eleição presidencial de 2006. Esse caso permite discutir a hipótese do voto assimétrico, segundo a qual a correlação entre classes sociais e voto é mediada pelos padrões de mobilidade intergeracional ascendente e descendente. Além disso, discutimos diversas outras hipóteses correlacionadas. Porém, antes é importante apresentar alguns aspectos da sociedade e da política brasileira recentes que são relevantes para entender as questões investigadas aqui.A sociedade brasileira, embora extremamente desigual, caracteriza-se por altos níveis de mobilidade social. Entre as décadas de 1970 e 2000, o índice de mobilidade intergeracional total, que mede o percentual de pessoas em classes de destino diferentes das de origem, passou de 55,3% para 67,3%, sendo que metade desse aumento se deu entre 1996 e 2008. No mesmo período, também houve uma diminuição significativa da desigualdade de renda. O coeficiente de Gini, que mede a diferença percentual entre a distribuição real e uma distribuição perfeitamente igualitária na qual cada indivíduo recebe exatamente a mesma renda, passou de 0,603 em 1996 para 0,503 em 2010. Em outras palavras, houve uma redução bastante significativa Voto assimétrico, classes e mobilidade social no Brasil