ResumoMesmo um observador leigo da política brasileira é capaz de constatar que os pretos e pardos estão excluídos das suas arenas decisórias. Contudo, a ausência de registros sobre a cor/raça de nossos políticos sempre dificultou o dimensionamento dessa sub-representação e as suas possíveis causas. Desde as eleições de 2014, porém, o Tribunal Superior Eleitoral computa a raça/cor dos candidatos registrados, o que permite contornar parcialmente essas dificuldades. Neste trabalho, recorremos a esses dados para dimensionar quão sub-representados pretos e pardos estão na Câmara dos Deputados e, sobretudo, testar algumas hipóteses explicativas de tal fenômeno. Os resultados indicam que as chances eleitorais de pretos e pardos são menores em relação às de brancos por causa de múltiplos fatores: (1) classe de origem, (2) acesso a recursos de campanha e (3) estruturas partidárias competitivas. Tudo isso sugere que medidas que busquem tornar a representação política mais diversa devem considerar a complexidade dos obstáculos interpostos a pretos e pardos. PALAVRAS-CHAVE: raça; negros; representação política; eleições; recrutamento político.
I. Introdução 1A ssim como outros espaços de poder e prestígio, a representação política é uma esfera majoritariamente branca no Brasil. Mas se a ausência de pretos e pardos 2 é relativamente evidente, o mesmo não pode ser dito sobre o diagnóstico de suas causas. Embora seja possível conjecturar que ela reflita o ciclo cumulativo de desigualdades, que oblitera a ascensão de pretos e pardos em outras esferas sociais, a ausência de registros sobre a cor/raça dos políticos brasileiros sempre dificultou a produção de evidências mais robustas que ajudassem a determinar os mecanismos subjacentes a essa situação. Disso resulta que as pesquisas sobre a dimensão dessa sub-representação e os fatores que a geram sempre tiveram de imaginar metodologias complexas para gerar resultados limitados.Nas eleições de 2014, porém, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) computou, pela primeira vez em sua história, a raça/cor dos candidatos registrados. Além de armazenar uma variável fundamental para estudos de estratificação no país, essa inclusão permite o cruzamento dessa clivagem com todas as outras já computadas pelo TSE tradicionalmente, como renda do candidato, receitas de campanha, sexo, estado civil, ocupação etc. Esses dados permitem não apenas estimar a magnitude da sub-representação política de pretos e pardos, mas também aventar hipóteses explicativas para tal sub-representação.Neste trabalho, recorremos a esses dados para dimensionar a sub-representação de pretos e pardos nas últimas eleições nacionais e, sobretudo, testar algumas hipóteses que podem ajudar a explicar tal fenômeno. Análises preliminares já indicam que a presença de pretos e pardos nas listas de candidaturas está aquém da proporção desses grupos na população de modo geral, embora tal