Os padrões e os estilos de vida das famílias impulsionam as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) incorporadas na cadeia produtiva, de modo que, atingir a meta climática sem alterar o consumo doméstico é praticamente impossível. Assim, esta pesquisa teve como objetivo analisar a relação entre desigualdade de renda e emissões de GEEs pelas famílias brasileiras. Mais especificamente, foram estimadas e analisadas as intensidades das emissões de GEEs associadas aos gastos com bens de consumo das famílias brasileiras, assim como as emissões totais via Curva Ambiental de Engel (CAE). A existência do “dilema de equidade e poluição” foi verificada no Brasil em diferentes níveis de distribuição de renda e como estes poderiam afetar as emissões de GEEs via consumo familiar. Para alcançar estes objetivos, um amplo conjunto de dados envolvendo gastos de consumo, despesa e renda foram extraídos da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2008-2009 e 2017-2018, os quais foram vinculados à matriz insumo-produto do Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo (NEREUS/USP), em conjunto com os dados das contas ambientais da World Input-Output Database (WIOD) e do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Metodologicamente, as intensidades de emissão de cada setor econômico foram atribuídas aos específicos gastos das famílias. Assim, foram estimadas as CAEs para os anos 2009 e 2018. O “dilema de equidade e poluição” foi quantificado a partir das estimativas das CAEs quadráticas. Os principais resultados demonstram que as emissões médias das famílias brasileiras diminuíram 41% de 2009 para 2018. No entanto, se a tecnologia permanecesse inalterada essa queda seria de apenas 4%. As cestas das famílias brasileiras, em média, ficaram menos intensivas. Em todos os setores de consumo das famílias houve queda nas intensidades de emissão. Porém, devido ao elevado consumo, os setores de Alimentos e Serviços de Transportes foram responsáveis por quase a metade das emissões domésticas nos dois períodos analisados. Em direção oposta à tecnologia, o crescimento da renda em si proporciona aumento das emissões domésticas, principalmente nas classes mais baixas. As CAEs demonstram que rendas mais altas estão relacionadas com maiores emissões domésticas de CO 2. No entanto, à medida que a renda cresce, as emissões aumentam menos que proporcionalmente. Em 2018, os 10% mais ricos emitiram mais do que a metade da população mais pobre em conjunto. Logo, há grande desigualdade de emissões, devido, principalmente, à má distribuição de renda. Os resultados referentes ao “dilema” indicam que redistribuição marginal da renda provoca pouco aumento nas emissões médias. Por outro lado, o combate à desigualdade de renda de forma ampla não impacta nas emissões. Assim, esta pesquisa demonstrou que os objetivos de melhorar a distribuição de renda e reduzir emissões de GEE não são antagônicos. Palavras-chave: Mudanças climáticas. Consumo das famílias. Emissões domésticas. Desigualdade