Introdução: A espiroquetose intestinal (EI) é definida pela presença de espiroquetas na superfície da mucosa cólica, sendo os organismos implicados a Brachyspira aalborgi ou Brachyspira pilosicoli. A sua prevalência é baixa em países desenvolvidos e está descrita uma maior incidência em homossexuais e em pessoas com o vírus da imunodeficiência humana (VIH). A pertinência deste caso deve-se ao diagnóstico desta patologia numa doente imunocompetente e o seu correto tratamento. Descrição do caso: Sexo feminino, 63 anos, reformada. Antecedentes: excesso de peso, hipertensão arterial, dislipidemia, insuficiência mitral e tricúspide ligeiras. Recorre à consulta por diarreia aquosa com um mês de evolução. Associadamente refere ingestão de água de um poço. Nega dor abdominal, náuseas, vómitos, perda de peso, melenas ou hematoquézias. Neste contexto foi pedida colonoscopia, que demonstrou colite segmentar inespecífica de provável etiologia infeciosa. As biópsias revelaram alterações inflamatórias ligeiras e inespecíficas e, em alguns fragmentos, colonização da superfície epitelial por bactérias com morfologia típica de EI. Devido a estes achados realizou estudo analítico, incluindo avaliação serológica para o VIH e sífilis, que foram negativos. Iniciou tratamento com claritromicina e metronidazol, com resolução dos sintomas. Comentário: Este caso clínico pretende alertar para a existência de uma patologia pouco comum nos cuidados de saúde primários, nomeadamente em imunocompetentes. É importante que o médico de família conheça e esteja sensibilizado para as diferentes etiologias da diarreia crónica para um correto e atempado diagnóstico e tratamento.