Comprometimento organizacional: bases para uma abordagem processual

Abstract

RESUMO -Há uma importante vertente de pesquisa sobre comprometimento organizacional (CO) sobre os vínculos entre indivíduo e sua organização empregadora. O presente estudo objetiva caracterizar a produção científica que analisa esse construto em uma perspectiva processual, pela sua importância para esclarecer questões conceituais e empíricas. Foram analisados39 artigos que relatam pesquisa longitudinal sobre CO, publicados entre 1975 e 2010. Além de constatar a reduzida utilização deste desenho de pesquisa na área, verificou-se: a) que o foco central dos estudos é a identificação dos seus antecedentes, mais do que nas mudanças no comprometimento ao longo do tempo e seus fatores determinantes; b) são reduzidos os estudos que incorporam variáveis do contexto. Da revisão são extraídas algumas recomendações para estudos futuros.Palavras-chave: comprometimento organizacional, estudos longitudinais, contextualização em estudos organizacionais Organizational Commitment: Basis for a Process Approach ABSTRACT -The links between individuals and their employer organization have been a main focus within research on organizational commitment (CO). The present study aimed to characterize the scientific literature analyzing this construct from a process perspective, considering its importance in clarifying conceptual and empirical issues. 39articles reporting longitudinal data on CO, published between 1975 and 2010, were analyzed. In addition to confirming the infrequent use of this research design in the area, the analysis pointed out that: a) a central focus on the identification of its antecedents, more than on changes in commitment patterns over time and their determining factors; b) only a reduced number of studies incorporate context variables. This review results in relevant recommendations for future studies.Keywords: organizational commitment, longitudinal studies, contextualizing organizational research Ao longo das últimas décadas fortaleceu-se uma compreensão de que fenômenos sociais, psicossociais, psicológicos, quer no nível dos indivíduos, quer dos grupos ou unidades sociais maiores, são dinâmicos, fluidos, complexos por dependerem de uma rede de fatores em interação. Esse pressuposto também está presente quando se analisa o mundo do trabalho e, mais especificamente, os vínculos de compromissos desenvolvidos entre o trabalhador e a organização empregadora, que passam a ser vistos como algo que é construído processualmente e que se altera ao longo do tempo. No entanto, pouca atenção tem sido dada à questão de como esse fenômeno muda com o tempo (Beck & Wilson, 2000, sendo essa considerada uma questão crítica para compreender o curso da relação entre o trabalhador e sua organização (Bentein, Vandenberg, Vandenberghe, & Stinglhamber, 2005) e para nos aproximarmos dos fatores efetivamente causais envolvidos na construção e mudança do comprometimento do trabalhador com a sua organização.Essa lacuna torna-se mais surpreendente quando se verifica que a literatura organizacional é fortemente dominada pelo tema da mudanç...

Valores pessoais e comprometimento afetivo em conselhos municipais de assistência social

“…Compreendê-lo como uma espécie de vínculo entre o indivíduo e a organização favorece salientar tanto o seu caráter dinâmico como a pressuposição de troca e reciprocidade existente na relação (Costa & Bastos, 2014). Se esse vínculo é estabelecido com base na identificação e no envolvimento do indivíduo com a organização, caracteriza-se o comprometimento atitudinal ou afetivo (Mowday, Steers, & Porter, 1979).…”

Comprometimento, entrincheiramento e enraizamento no trabalho: um olhar sobre o impacto do lugar no desenvolvimento de ví­nculos

“…Apesar das crescentes demandas por uma melhor contextualização nos estudos de comportamento organizacional (Rousseau & Fried, 2001;Johns, 2006;Härtel & O'Connor, 2014) e, mais especificamente, nos estudos sobre vínculos (Costa & Bastos, 2014;Wasti et al, 2016), ainda são relativamente escassos os estudos que se preocupam com as influências externas à organização para o desenvolvimento do comprometimento e do entrincheiramento. Brotherton (2003) afirma que uma atenção explícita aos fenômenos de trabalho fora do ambiente profissional e ao amplo contexto social se faz necessária.…”

“…A primeira delas se refere a compreensão do desenvolvimento dos vínculos e da forma como ele ocorre, uma vez que, como afirmam Costa e Bastos (2014), nas últimas décadas fortaleceu-se a ideia de que os fenômenos psicossociais são dinâmicos e fluidos. A segunda está ligada a necessidade de inclusão do contexto nos estudos organizacionais em geral e nas pesquisas de vínculos em particular de forma que a interpretação dos resultados e conclusões alcançadas sejam mais consistentes (Costa & Bastos, 2014;Rousseau & Fried, 2001;Wasti et al, 2016). Por fim, este estudo também contribui para a literatura de vínculos organizacionais ao apontar os pontos de sobreposição e diferenciação do constructo de enraizamento com os vínculos de comprometimento e entrincheiramento ao longo de seus processos de desenvolvimento.…”

“…Entre os pesquisadores ocupados com o estudo dos vínculos no trabalho, é possível notar também uma preocupação em melhor contextualizar suas pesquisas e em compreender como o contexto pode influenciar no desenvolvimento de vínculos como o comprometimento e o entrincheiramento (Costa & Bastos, 2014;Rodrigues et al, 2013;Wasti et al, 2016). Há algum tempo, os autores desta área evidenciam a importância do contexto organizacional ao afirmarem que a construção dos vínculos decorre sobretudo das experiências vividas pelos trabalhadores dentro de seu ambiente de trabalho (Beck & Wilson, 2001;Meyer & Allen, 1997;Rodrigues et al, 2013).…”

“…Assim, o constructo oferece uma forma pela qual compreender a influência de diferentes variáveis contextuais nos vínculos organizacionais. Porém, como será explorado neste trabalho, o enraizamento no trabalho apresenta pontos de sobreposição tanto teórica quanto empírica (Oyler, 2014) Assim, uma vez que a evolução dos vínculos com a organização depende de uma "rede de fatores em interação" (Costa & Bastos, 2014) e cujos níveis são ajustados em função da forma pela qual os indivíduos interpretam o contexto em que o seu trabalho se insere (Vandenberg & Self, 1993), se faz necessário estudar o papel do contexto em que os vínculos se desenvolvem para a dinâmica dos mesmos. Na presente pesquisa, as palavras "dinâmica", "evolução" e "desenvolvimento" são usadas como sinônimos para denotar a variação de intensidade a que estão sujeitos os vínculos organizacionais.…”