Condições clínicas, nutricionais e sociais de crianças com doença falciforme acompanhadas em um centro de referência: estudo descritivo

Abstract

Objetivo: Descrever as características clínicas, sociais e nutricionais de crianças com doença falciforme de 5-9 anos. Método: Trata-se de estudo seccional em amostra aleatória de 190 crianças avaliada entre 2015 e 2016, cadastradas em um hospital de referência em hematologia do Rio de Janeiro, Brasil. Resultados: A maioria das crianças estudadas possuía o genótipo Hb SS (65,3%), teve seu diagnóstico na triagem neonatal (91%) e iniciou o acompanhamento médico antes dos seis meses de idade (91,5%). Excesso de peso e baixa estatura foram encontrados em 14,2% e 6,2% das crianças, respectivamente. Em relação às condições sociais da família, a maioria dos pais possuíam companheiros (60,5%), viviam com até meio salário mínimo (55,8%) e as mulheres deixaram seus empregos para acompanhar o tratamento da criança (52,4%). Conclusão: As crianças com doença falciforme foram diagnosticadas precocemente, aproximadamente um sexto delas estavam em excesso de peso e 20% declararam renda de até um quarto de salário mínimo. O fortalecimento da rede de atenção no SUS às pessoas com DF é uma importante medida para mitigar os problemas identificados neste estudo.

Iniquidades em saúde relacionadas à anemia falciforme: relato de experiência

“…Ademais, é uma das diretrizes da Política Nacional de Atenção às Pessoas com Doença Falciforme e de outras Hemoglobinopatias (Portaria GM/MS nº 1.391, de 16 de agosto de 2005) 7 , o diagnóstico precoce da doença, ao tratamento e as medidas de prevenção realizadas, para resultar em melhor qualidade de vida e diminuição da mortalidade infantil 8 . Mas, na realidade, o não enfrentamento das disfunções políticas estatais da saúde faz com que sejam mantidas as iniquidades de saúde e até mesmo criam-se ou agravam-se novas iniquidades 9 .…”

CONSUMO ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS COM DOENÇAS FALCIFORME: uma revisão sistemática

“…Essa situação pode estar diretamente interligada à transição nutricional que vem ocorrendo progressivamente nos últimos anos, através de mudanças nos padrões de vida, envolvendo avanço econômico, tecnológico e cultural, distribuição de renda e urbanização 21 . Reforçando esse fato, Adegoke et al 17 , Santos et al 22 e Botelho et al 23 encontraram maior frequência de sobrepeso em crianças brasileiras com DF, quando comparado a outros estudos de pessoas com essa condição clínica, atrelando as mudanças no perfil nutricional aos fatores mencionados anteriormente.…”

“…Pertinente salientar que, os dois extremos de classificações nutricionais são prejudiciais e preocupantes em indivíduos com a enfermidade, visto que, a desnutrição está relacionada com a redução das concentrações plasmáticas de hemoglobina, maiores riscos de infecção e mortalidade, enquanto o excesso de peso amplia o risco de ocorrer perfusão sanguínea e sobrecarga dos órgãos, assim como, aumentar as chances desse grupo desenvolver Hipertensão Arterial Sistêmica, asma e apneia do sono 22,23 .…”

“…Diante desses fatos ressalta-se que, devido ao processo transitório que permeia os aspectos nutricionais, há uma constatação de que houve melhorias no desenvolvimento dessa população, e Pinho et al 24 identificaram em seu estudo que mais de 90% das crianças tinham estatura e peso adequados para a idade, e o estado nutricional de eutrofia prevaleceu sobre os demais. Atrelado a essa perspectiva, a importância do diagnóstico precoce e do acesso aos cuidados em saúde é amplamente relevante, uma vez que esses fatores podem minimizar expressivamente o declínio de crescimento, assim como melhorar os sinais e sintomas característicos da DF e reduzir as altas taxas de mortalidade infantil 15,16,22 .…”

“…Nas pesquisas realizadas no Brasil houve divergência nos achados, visto que, Pinho et al 24 consideraram que apesar de as famílias das crianças terem baixa escolaridade e viverem em situação de pobreza, elas tinham acesso aos serviços básicos de infraestrutura urbana, por isso eles acreditam que isso pode ter contribuído para que tivessem um status nutricional de eutrofia; e Santos et al 22 perceberam que a situação socioeconômica interfere diretamente no cuidado da saúde e consequentemente no prognóstico das doenças, principalmente no que tange às iniquidades sociais e às complicações na vida das pessoas Deve-se levar em consideração que, os agravos que permeiam a saúde da população negra poderiam ser minimizados a partir da efetividade de programas e políticas estabelecidos em alguns países, contudo é possível visualizar um contexto muito contrário. Por mais que exista a implementação desses recursos, a negligência ainda é muito notada 26 .…”