De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as bactérias resistentes aos antimicrobianos serão responsáveis por cerca de dez milhões de mortes anuais até 2050. O uso indiscriminado destes fármacos, bem como seu despejo inadequado, são apontados como os principais desafios ambientais a ser enfrentado pela saúde pública mundial. O presente estudo exploratório teve como objetivo avaliar o impacto da comercialização de azitromicina, ivermectina e cloroquina, durante a pandemia de COVID-19 no Brasil, na detecção ambiental de bactérias resistentes no período pós-pandêmico utilizando dados secundários referentes à venda de medicamentos controlados industrializados em todo o país. Somente durante o período da pandemia, houve um aumento de 1,375 milhões de unidades de antibióticos comercializas e mais de 1.5 milhões de unidades de cloroquina foram vendidas no Brasil. Há uma tendência linear quanto ao aumento de isolados bacterianos resistentes, atribuida ao uso indiscriminado de antimicrobianos e a comercialização do KIT COVID no Brasil. Embora o impacto para a saúde pública ainda não possa ser mensurado, o despejo destes fármacos e a ausência de tratamento adequado dos efluentes hospitalares podem ser prejudiciais à biota em diferentes níveis tróficos, além de causar distúrbios à saúde humana e animal, através da alteração da microbiota, pela infecção direta ou vetorada de microrganismos resistentes. Os dados apresentados apontam a necessidade de traçar novas estratégias para mitigar o impacto da AMR, bem como novos estudos para o monitoramento de microrganismos resistentes, antimicrobianos e seus resíduos em efluentes hospitalares.