RESUMONa avaliação dos pacientes, os incômodos acarretados pelo tratamento medicamentoso da esquizofrenia podem ser tão intensos quanto os sintomas do transtorno. Este estudo objetivou compreender como pacientes com esquizofrenia enfrentam os incômodos ocasionados pelo transtorno e pelo tratamento medicamentoso. Pesquisa utilizou abordagem qualitativa, referencial metodológico da Teoria Fundamentada e pressupostos do Interacionismo Simbólico. Participaram do estudo 36 pessoas com esquizofrenia em tratamento comunitário e 36 familiares. Entrevista gravada e observação foram empregadas na coleta dos dados. Os dados coletados foram transcritos e, posteriormente, analisados em três etapas: codificação aberta, axial e seletiva A pessoa com esquizofrenia tem desejo constante de obter alívio para os sofrimentos vivenciados e experimenta ambivalência em relação à adesão aos psicotrópicos. Ora o paciente adere ao tratamento, para atenuar sintomas da esquizofrenia, ora deixa de aderir por priorizar o alívio dos incômodos decorrentes da farmacoterapia, se expondo ao risco de agravamento do transtorno. Em associação com a adesão ou não adesão, o indivíduo experimenta outras estratégias, como a busca de tratamento não farmacológico, a espiritualidade e o consumo ou interrupção de substâncias psicoativas. A compreensão das motivações relacionadas à seleção das estratégias de enfrentamento utilizadas pelo paciente é fundamental para subsidiar a assistência fornecida a esta clientela.
INTRODUÇÃOA esquizofrenia é uma condição crônica potencialmente incapacitante que ocasiona grande impacto para o portador, a família e a sociedade. Além da experiência subjetiva de sintomas psicóticos, o transtorno afeta a qualidade de vida do indivíduo e está associado a prejuízo funcional significativo (1) . O tratamento da esquizofrenia é composto pela terapêutica medicamentosa, psicoterapia e socioterapia. Com o movimento da Reforma Psiquiátrica, o tratamento ocorre predominantemente na comunidade (2) e, nesse contexto, um importante desafio é a adesão do paciente à terapêutica medicamentosa (3) . O tratamento medicamentoso é fundamental para controle da esquizofrenia, mas na avaliação dos pacientes, os prejuízos acarretados pelo tratamento medicamentoso podem ser tão intensos quanto os sintomas do transtorno (4) . Os incômodos ocasionados pela farmacoterapia não se resumem aos efeitos colaterais, embora tais efeitos se destaquem entre as principais causas de não adesão ao tratamento (3,5) e sejam experimentados por grande parte dos pacientes, em algum momento do tratamento.Os medicamentos de primeira escolha para o tratamento da esquizofrenia são os antipsicóticos. Os efeitos colaterais desses medicamentos podem variar de acordo com o antipsicótico, e existem diferenças significativas na manifestação dos efeitos adversos entre os indivíduos. Em relação aos efeitos colaterais que podem ocorrer com o uso de antipsicóticos, destacam-se os efeitos extrapiramidais, agranulocitose, ganho de peso, alterações metabólicas (dislipidemia e resistência ...