Introduçãoo enfrentar a Esfinge guardiã de Tebas e decifrar o quebra-cabeça mais famoso da história da humanidade, a figura do jovem Édipo assumiria, na mitologia grega, importante papel mediador entre o entendimento, o conhecimento e o reconhecimento da condição humana. "Decifra-me ou devoro-te: que animal caminha com quatro pés pela manhã, dois ao meio-dia e três à tarde e é mais fraco quando tem mais pernas?" Conta-nos Sófocles que a resposta de Édipo à terrível criatura devoradora de gente desativou o poder daquele monstro alado e iluminou de sentidos a cronologia da existência humana: "só o Homem engatinha na infância, caminha com os dois pés na vida adulta e usa uma bengala para se apoiar na velhice".O enigma da Esfinge pode ser entendido, por livre interpretação, como um enigma de homens e mulheres de todos os tempos: estão confrontados por si mesmos e desafiados durante suas existências a saberem quem são, a se conhecerem enquanto seres humanos e a se reconhecerem nesta humanidade.Na peça magistralmente escrita por Sófocles por volta de 427 a.C., Édipo decifra a charada de seu tempo e, assim, não é devorado pelo animal inquisidor -projeção de si próprio, de seus instintos mais selvagens e das limitações a enfrentar no entendimento do mundo. Contudo, após vencer seu obstáculo, segue a trilha de seu destino onde outros desafios estão por vir. Segue a sua fortuna, como analisa Aristóteles em Arte poética, onde considera Édipo Rei o mais perfeito exemplo de tragédia grega justamente pelo arranjo das ações complexas da trama que engendram mudança de fortuna do protagonista com reconhecimento e peripécia.1 Homens e mulheres de hoje já experimentam uma nova ventura -a longevidade. Condição essa que pode tornar-se desventura a depender de como a sociedade consiga responder ao enigma que se apresenta a todos, sobretudo pesquisadores e estudiosos não só da Medicina e da Saúde, mas das mais diversas áreas do conhecimento, gestores da área pública ou privada, intelectualidade e também artistas.Decifra-me ou devoro-te, insinua agora a esfinge pós-moderna que se nos apresenta na forma atual da pirâmide demográfica e populacional mundial. Enfrentá-la exige, mais que nunca, reconhecimento e peripécia. Mas não só: além de olhos de ver e ouvidos de ouvir, solicita corações e mentes com um aguçado sentido de solidariedade e de urgência.