RESUMOObjetivo: Verificar quais as correlações existentes longitudinalmente entre o foco de olhar de bebês, em situação de interação maternofilial livre, ao longo dos primeiros meses de desenvolvimento. Métodos: Dezessete bebês saudáveis foram filmados por 30 minutos, mensalmente, entre zero e quatro meses de vida, em situações cotidianas com suas mães. As filmagens foram analisadas em intervalos consecutivos de 30 segundos, sendo registrada a presença ou ausência de 11 categorias de observação do olhar (alvos do olhar dos bebês), enquanto estes estavam em estado de alerta. Resultados: Foram encontradas 21 correlações estatisticamente significantes entre as categorias de observação do olhar, sendo 16 positivas (76,2%) e cinco negativas (23,8%). O momento com maior número de correlações estatisticamente significantes foi na quarta filmagem, e o momento com menor número de correlações estatisticamente significantes foi na segunda filmagem. A correlação estatisticamente significante mais freqüente, encontrada em quatro dos cinco momentos de coleta (80%), foi entre as categorias "olhar para o rosto da mãe" e "olhar para os olhos da mãe". Conclusões: Os resultados obtidos, à luz das informações existentes sobre o desenvolvimento inicial de jovens crianças, permitem imaginar relações entre suas competências sensoriais, cognitivas, sociais e afetivas e os alvos de seu olhar. O aprofundamento do tema, com investigações sobre indícios de atenção compartilhada nesta tenra fase, e reflexões sobre os objetos do olhar dos bebês e a saúde de seu desenvolvimento parecem contribuir para o diagnóstico e a prevenção de distúrbios do desenvolvimento.Descritores: Desenvolvimento infantil; Comunicação; Recém-nascido; Lactente; Percepção visual
INTRODUÇÃOO olhar pode ser respondido desde os primeiros momentos de contato entre um bebê e o adulto que o recebe afetivamente. O olhar se estabelece e progressivamente se aprimora. Além de possibilidade sensorial fundamental no desenvolvimento infantil, por permitir apreender o mundo, é importante componente da comunicação não-verbal e pode indicar fases pelas quais o bebê passa enquanto adquire outras habilidades -sensoriais, motoras, sociais, afetivas.O olhar pode ser concebido como comportamento, sendo possível medi-lo e estabelecer paralelismos e oposições -correlações -entre suas manifestações. O objetivo deste trabalho é verificar quais as correlações existentes entre as categorias de observação do olhar manifestas por bebês saudáveis, ao longo de seu desenvolvimento entre zero e quatro meses de vida.Observações longitudinais de bebês, nos primeiros meses de vida durante trocas face a face com suas mães, são raras. Igualmente pouco freqüente é a investigação dos bebês antes das seis semanas de vida, o que confere ao primeiro mês do desenvolvimento a condição de "inexplorado"(1) . Considerando-se as trocas comunicativas que ocorrem no início da vida, um bom recurso para a microanálise dos processos é o registro em vídeo de situações interativas naturais. As transcrições microanalíticas ...