“…conjunto de práticas sociais, nas quais os seus membros [falantes] também são formados culturalmente na/pela presença de outros discursos, modificados, atualizados, revitalizados, violados, adaptados, corrigidos, ampliados, subvertidos, conformando e remetendo-nos, portanto, a uma infinita espiral social, histórica e cultural calcada na linguagem64.O dialogismo se conecta também, e de maneira bastante estreita, a outra noção bakhtiniana, a já conhecida polifonia. Embora haja uma ligeira identificação entre dialogismo e polifoniahaja vista que os dois pressupostos se pautam em uma confluência de vozes e discursos que dialogam entre sicríticas comoMarcuzzo (2008) e Pires e Tamanini-Adames (2010) reforçam as diferenças existentes entre os dois. Se por um lado a heterogeneidade de discursos dentro de discursos é condição primária da linguagem, é na polifonia que essas refletem a voz do autor) e os discursos formados ao longo de um continuum social, histórico e cultural, o pensamento bakhtiniano nos permite imaginar a inexistência de um "texto zero", um "texto puro", em que não haja qualquer possibilidade de referência ou breves acenos a textos outros: todo discurso é vários, e todo texto é aberto a outros, uma lembrança, uma espiral, um eco, uma remissão; mas também um ponto de partida com vários de partida dentro, um fluxo, um trânsito de textos que circulam em vários sentidos, um intertexto infinito.Uma vez que "todas as palavras abrem-se assim às palavras do outro, o outro podendo corresponder ao conjunto da literatura existente: [e que] os textos literários abrem sem cessar o diálogo da literatura com sua própria historicidade" (SAMOYAULT, 2008, p. 21-22), a condição especial da multiplicidade de vozes que se reforçam, se firmam e se afirmam no romance nos abre a perspectiva de tomar o fenômeno polifônico como a chave para os Desse modo, os textosorais, escritos ou imagéticosassumem uma relação que se estende ad infinitum, na qual os produtos textuais convergem, nos seus mais variados graus possíveis, e se vertem em um outro, e nesse outro teremos uma ressonância de outros, conformando a tese barthesiana de que todo texto é um intertexto: O texto redistribui a língua (é o campo dessa distribuição).…”