Este artigo objetivou compreender como casais homoafetivos longevos, com mais de 30 anos de vida em comum, um masculino e um feminino, com a assunção de suas homossexualidades e lesbiandades em contexto social patologizante, conseguiram construir suas conjugalidades independentemente dos apoios familiares e institucionais, tidos como fundamentais para o casal se estabelecer. Ao analisar a conjugalidade homoafetiva na meia idade, procurou-se conhecer como seus integrantes vivenciaram o legado heteronormativo que receberam, bem como as dinâmicas psíquicas que estruturaram a díade. A pesquisa foi exploratória, com enfoque clínico-qualitativo, com entrevistas semiestruturadas feitas com a díade, com inferências a partir da análise de discurso, sob a psicanálise vincular e de casal. Os resultados mostraram um vínculo com característica fusional no casal de mulheres, porém com desenvolvimento individual de ambas, enquanto o masculino apresentou respeito às diferenças, com períodos alternados de fusionalidade e alteridade. Nos dois casais, havia similaridade de investimentos e cumprimentos de acordos. A análise demonstrou que as alianças amorosas homoafetivas podem ser construídas e permanecerem estáveis mesmo quando vivenciadas no anonimato e sem apadrinhamento social. A pertinência desta pesquisa está na atualização de conceitos clínicos e de manejo, para que se possa ter uma clínica inclusiva aos novos modelos amorosos.