Dinâmicas de matrícula em escolas públicas na cidade do Rio de Janeiro

Abstract

Resumo Este estudo discute, com base na análise da alocação de alunos em um polo de matrícula, a distribuição de oportunidades educacionais e a existência de possíveis mecanismos de segregação escolar em escolas da rede municipal do Rio de Janeiro. O objetivo é compreender a distribuição dos alunos entre escolas na transição do 5º para o 6º ano do Ensino Fundamental, analisando as ações das famílias e da direção das escolas. O estudo combinou análises quantitativas e qualitativas. Utilizou-se a base de dados da Secretaria Municipal de Educação para análise dos padrões de envio de alunos. Realizaram-se entrevistas com 30 famílias e 3 diretores, para compreender os critérios das famílias para escolha de escolas, as estratégias para acessá-las e os procedimentos de matrícula adotados pelos gestores. Os resultados apontam a existência de padrões para envio de alunos a escolas com características semelhantes e mostram que as famílias seguem caminhos distintos para conseguir vagas nas escolas e que a direção das escolas tem papel ativo na seleção do alunado.

Burocracia escolar e reprodução de estigmas sobre os estudantes e suas famílias

“…Assim, algumas escolas tendem a ter maior procura, enquanto em outras "sobram" vagas. Há pesquisas que identificaram algumas estratégias adotadas pelas famílias para a escolha e o acesso às escolas desejadas, o que não garante o acesso à escola escolhida inicialmente (Costa & Koslinski, 2011;Rosistolato et al, 2016). A fim de entender esse fenômeno, é necessário compreender as diretrizes oficiais da Secretaria Municipal de Educação -SME para os processos de matrícula e identificar as ações da burocracia A legislação não especifica como devem ser os procedimentos de matrícula, transferência e remanejamento nos casos em que a demanda é maior que o número de vagas.…”

“…Portanto, os gestores atuam diretamente nas decisões que definem a ocupação de vagas. (Bruel, 2014;Carvalho, 2014;Rosistolato et al, 2016). Autores como Costa e Koslinski (2011) evidenciaram a existência de um "quase mercado oculto" na rede municipal do Rio de Janeiro, ao identificarem mecanismos adotados pelas escolas para selecionarem alunos de perfil "desejável", favorecendo a manutenção ou a melhora de suas reputações.…”

Os métodos mistos na análise sociológica da educação e a relativização das fronteiras entre micro e macro

“…14 Optamos por investigar dois polos em cada uma das CRE selecionadas. Os dois polos eram os mais heterogêneos destas CRE, considerando a presença de escolas de baixo e alto desempenho, a movimentação de alunos remanejados, a concentração de escolas próximas umas das outras e o desvio-padrão da média de escolaridade dos pais 15 (Rosistolato et al, 2016). Consideramos todos os estudos iniciais, realizados por Koslinski e Carvalho (2013), que apontavam que os (i) polos eram diversificados em nível socioeconômico, (ii) que existia uma possível relação entre as características dos polos com o território e a população atendida e (iii) a existência de um padrão de remanejamento de alunos entre as escolas dos polos.…”

n. 43 - BUROCRACIA EDUCACIONAL EM INTERAÇÃO COM AS FAMÍLIAS NOS PROCESSOS DE MATRÍCULA ESCOLAR NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

“…A partir do momento em que decidimos estudar os processos de produção de desigualdades no interior das escolas, optamos pela análise das ações de gestores relacionadas à matricula das crianças nos estabelecimentos escolares. Naquele momento, já havíamos trabalhado com a perspectiva das famílias sobre a matrícula escolar (ROSISTOLATO, 2015;ROSISTOLATO et al, 2016). Daí a ideia de comparar as visões das famílias com aquelas apresentadas pelos gestores.…”

“…Estudos anteriores já demonstraram como estudantes com perfis equivalentes em termos de nível socioeconômico, capital cultural, local de moradia e pertencimento a redes sociais têm trajetórias diferentes resultantes das ações de suas famílias e dos gestores escolares (Rosistolato, Pires do Prado & Costa, 2014;Rosistolato et al, 2016).…”