É Hora De Ir Para Casa: Reflexões Sobre O Ir E Vir Sem Sair Do Lugar

Abstract

A pandemia do novo coronavírus alterou significativamente as formas de trabalho, colocando sob holofotes o home office, adotado emergencialmente por inúmeras organizações, no intuito de manter o distanciamento social e a continuidade das atividades. Os obstáculos desta prática são distintos quando relacionados aos níveis organizacional e individual. Alguns dos desafios reconhecidos por esta modalidade de trabalho são amplamente discutidos, com a existência de publicações contendo melhores práticas. Ao refletir acerca das discussões neste campo à luz dos estudos organizacionais, observa-se uma clara ênfase na estrutura física dos locais de trabalho. Com vistas a contribuir com a temática, este artigo objetiva contribuir para uma reflexão acerca do home office no contexto da pandemia de COVID-19, sob a luz da Teoria das Organizações e na ótica do trabalhador. Para tal, foi realizada uma apreciação da literatura sobre a Teoria das Organizações, além de 34 entrevistas exploratórias realizadas com trabalhadores que iniciaram na modalidade home office devido ao isolamento social. Como resultados, identificamos que o debate sobre home office no contexto da pandemia de COVID-19 sob a luz da Teoria das Organizações pode ser agrupado em cinco grupos temáticos, relacionados à: necessidade de vigília e mecanismos de controles; criação de significados por meio das estruturas físicas; ressignificações dos espaços familiares; comunicação espontânea e informal; reconstrução da rotina e criação de condicionamentos simbólicos. Para além destes, identificamos ainda reflexões subjetivas, relacionadas com a expressão do poder e identidade do grupo.

Variabilidades e regulações no teletrabalho em home office durante a pandemia de Covid-19

“…Outras regulações identificadas tratam do desenvolvimento da autodisciplina e do foco na tarefa durante o home office (ACZEL et al, 2021;MAYER, 2020;PARK et al, 2021;WANG et al, 2020), bem como da necessidade do apoio familiar no processo de adaptação ao novo modelo (AKUOKO et al, 2021;MALLET et al, 2020;MAYER, 2020). Esse apoio se manifesta, por exemplo, através do respeito aos horários em que a interação com outros membros da família pode ou não acontecer (ALPERSTEDT, 2020;ACZEL et al, 2021;CABRAL). A definição de limites que permitam trabalhar a partir de casa, contudo, também passa pela capacidade de definir e acatar os momentos de pausa e, nesse aspecto, a literatura menciona como estratégia não responder e-mails aos fins de semana (ACZEL et al, 2021).…”

“…Mobiliário e equipamentos de TI configuram os itens mencionados com maior frequência no que tange às variabilidades. Não obstante, a ressignificação dos espaços domésticos é novamente evidenciada como regulação nessa categoria, à medida que mobiliários de uso familiar, como cama, penteadeira e mesa de refeições são mobilizadas como insumos de trabalho (CABRAL; ALPERSTEDT, 2020;LOPEZ-LEON et al, 2020). Já em relação aos equipamentos de TI, não há outra possibilidade a não ser providenciá-los e, nesse sentido, a argumentação gira em torno de seu fornecimento pela empresa (MELLO; TOMEI, 2021) ou de sua aquisição pelo trabalhador, com recursos próprios (POMPUTIUS, 2020).…”

Impactos do teletrabalho para as professoras do curso de direito da UNIFOR durante a pandemia

“…A partir desse cenário, os docentes precisaram conciliar a vida familiar com o ambiente profissional, ao passo que o ambiente destinado ao exercício das duas funções torna-se o mesmo. Assim, essa comunhão de atividades proporciona consequências imediatas, como aumento do cansaço e sensação de constante improdutividade, tendo em vista que a residência do professor pode não ser o local mais adequado para pleno desempenho das atividades profissionais (CABRAL; ALPERSTEDT, 2021).…”