Resumo Neste artigo pretendo desenvolver a hipótese de que a obra de Winnicott pode corresponder a uma realização possível do projeto de elaboração de uma psicologia científica não naturalista, tal como indicado nas concepções filosóficas da fenomenologia e do existencialismo moderno. Depois de distinguir o que seriam os aspectos clínicos destas propostas filosóficas, procuro mostrar que Winnicott, por um lado, rejeita o uso de especulações metapsicológias naturalistas, e por outro, reformula o modelo ontológico da psicanálise, com a introdução da noção de ser; além de introduzir uma noção de saúde e redescrever a teoria do desenvolvimento socioemocional do ser humano focando-a nas suas relações de dependêndia.Tais modificações colocariam a psicanálise num quadro epistemológico não naturalista, mais de acordo com essas influências filosóficas citadas, modificando também a própria prática psicanalítica, seja em termos dos seus objetivos seja em termos do seu manejo.