Marciano Azuaga (1838-1905), natural de Valença do Minho, fixou-se em Vila Nova de Gaia a partir da chegada do caminho de ferro às Devesas, em 1864. Durante a sua vida, este chefe de estação e colecionador amador constituiu um espólio eclético de 1865 objetos, que doou à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia em 1904, quando o mesmo se configurava já como museu particular, aberto gratuitamente ao público. O presente artigo procura contextualizar a formação desta coleção e demonstrar como esse processo nos elucida relativamente às orientações intelectuais dos vultos dominantes da produção científica, artística, literária, política e académica com as quais Marciano Azuaga contactava. Estes mesmos, compunham uma sociedade ilustrada que fluía por entre as instituições e círculos de intimidade de Gaia e Porto. O inventário da coleção produzido em 1904 (que acompanhou a sua doação e que serviu de registo de incorporações posteriores até 1934) é uma fonte que permite não apenas reconstituir a coleção, mas sobretudo conhecer alguns dos seus doadores, que se foram registando até 1909. Se a diversidade e o ecletismo aparente dos objetos prenunciavam uma coleção motivada pelo gosto particular do colecionador, as tipologias de objetos contemplados e os respetivos doadores revelam uma sensibilidade positivista do conhecimento e colecionismo que corrobora a caraterização desta sociedade e o seu impacto sobre o espólio recolhido pelo colecionador. O estudo do inventário, em conjunto com abordagens biográficas do colecionador e doadores da coleção, bem como de outras fontes e periódicos de época referentes às instituições e iniciativas que integraram, constituíram os principais recursos utilizados para criar um cruzamento de dados que demonstra as circunstâncias sociais, económicas, profissionais e geográficas que propiciaram a constituição desta coleção.