Em Uma História Global e Brasileira da Aids, 1986-2021, Marcos Cueto e Gabriel Lopes oferecem aos seus leitores uma espécie de aula magistral sobre como escrever a história da saúde coletiva na era global. Eles capturam a natureza interativa do sistema global contemporâneo, que certamente é caracterizado por muitas formas de desigualdade combinadas em configurações frequentemente neocoloniais. Eles também nos mostram que existe espaço para trocas bidirecionais e, mesmo no contexto da hegemonia neocolonial, é possível validar perspectivas alternativas de forma importante. Eles demonstram claramente que o tempo da análise histórica atrelada somente a unidades delimitadas, sejam comunidades locais sejam Estados-nação específicos, passou. A história da saúde e da medicina, na era da saúde global, só pode ser adequadamente compreendida com a devida atenção à complexidade das interações e interseções globais. Se os desenvolvimentos históricos locais e nacionais são profundamente impactados por processos e estruturas transnacionais, a saúde global também é influenciada e moldada por desenvolvimentos que ocorrem nacional e localmente; poucos estudos de caso estendidos ilustram isso tão claramente quanto esta história da resposta à aids no Brasil e das contribuições do Brasil para a resposta à aids no mundo.