Os diálogos culturais gerados entre África, Américas e Europa têm sido férteis na difusão de novas narrativas sonoras, corporais e plásticas, globalizadas em ritmo acelerado através das migrações internacionais e de plataformas comunicacionais na era/geração digital (Feixa, 2014). Do funk carioca ao rap crioulo, da arte performativa às linguagens audiovisuais, as intervenções estéticas protagonizadas por jovens de áreas socialmente periféricas -seja nas margens do sistema-mundo capitalista, seja nas margens dos países imperiais -têm conquistado espaço na Internet, televisão e rádio, bem como em exposições de arte e pistas de dança de ambos os lados do Atlântico (Kabir, 2014; Aderaldo e Raposo, 2016;Marcon et al., 2018). Esses processos de globalização têm seguido uma lógica contra-hegemônica, constituindo o que Thussu (2007) denomina "contrafluxos" (ver Jiménez, 2019 para o caso da kizomba). Muitas dessas intervenções estéticas, por outro lado, têm a capacidade de inserir pautas incômodas ao poder público, dando visibilidade a uma política de representação que busca cidadania social e cultural entre aqueles que ocupam posições marginais e periféricas na atual ordem neoliberal (Raposo, 2016). * Professor auxiliar convidado do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e pesquisador integrado do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL). Este dossiê inscreve-se também no projeto ArtCitizenship (PTDC/SOC-SOC/28655/2017), financiado por fundos nacionais através da FCT -Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P