Tatiane havia se formado há pouco tempo quando engravidou. Casada há dois anos, a gravidez não foi "nem planejada nem não planejada". Foi recebida com um misto de alegria e receio por parte de seu marido, que era técnico de informática e, "como todo pai", se preocupava com as condições financeiras de sustento da família. Como era o primeiro neto da família, estavam todos -pais, avós, irmão, sogros -muito entusiasmados. Tatiane gostaria de chamá-lo de Cassiano, um nome considerado antiquado e "feio" por muitos ao seu redor. Essas reações a aborreciam, mais do que os conselhos constantes sobre como se cuidar. Já em relação ao sobrenome, Tatiane disse escolher a tradição -passar ao filho tanto seu sobrenome quanto o do pai: Ferreira dos Santos. O sobrenome de sua mãe era Giuliani e era este que ela usava em seu perfil do Facebook. Apesar de considerá-lo "bonito e diferente", não achava correto passá-lo. Além de ser sobrenome de sua mãe -e a norma, ela frisou, era transmitir o de seu pai -era também o sobrenome de seus bisavós, descendentes de escravos, que haviam sido adotados pela família Giuliani, imigrantes italianos. Apesar de sua gratidão, não era uma relação de "sangue". As pessoas questionavam sua decisão, mas Tatiane reiterava que não era a "ordem da lei". 1 Como Tatiane, as gestantes com quem conversei tinham muitas histórias para contar em torno dos nomes para o bebê que esperavam. Nomear o bebê antes de seu nascimento era uma prática comum e as mulheres buscavam explicar por que tinham escolhido certo nome ou sobrenome, ou por que ainda não o tinham feito. Estas histórias fazem parte de narrativas da gravidez que venho estudando nos últimos anos (Rezende 2011(Rezende , 2012, buscando entender como a gestação do primeiro filho dá inicio à transformação da rede de parentesco (Duarte & Gomes 2008), realçando, portanto, o caráter processual da relacionalidade (Carsten 2000). As mulheres e seus maridos estão assumindo novos papéis como mães e pais e têm várias decisões a tomar, entre elas a escolha do nome e dos sobrenomes da criança. Porque