As restrições de circulação de pessoas durante a pandemia da COVID-19 desencadearam uma cascata de efeitos sobre a economia afetando também os empreendimentos rurais. As feiras livres e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) são exemplos de canais de comercialização que foram suspensos no decorrer da pandemia. Nesse contexto, esta tese buscou compreender a resiliência das cooperativas da agricultura familiar durante a pandemia da COVID-19, por uma perspectiva relacional, evidenciando as vulnerabilidades, as estratégias adotadas e como as interações entre as cooperativas e os demais atores com quem se relacionam condicionaram a construção dessas estratégias. Este estudo, de caráter qualitativo e delineado pelo estudo de múltiplos eventos, investigou três cooperativas sediadas no Polo de Agroecologia e produção orgânica da Zona da Mata de Minas Gerais. Os dados foram coletados por meio de entrevistas com gestores e cooperados, observação não participante e análise documental. O aporte teórico escolhido pautou-se na Nova Sociologia Econômica, com as análises centradas em uma abordagem relacional. Como resultado, verificou-se que a interrupção do PNAE foi a vulnerabilidade mais significativa, explicitando a importância de as cooperativas diversificarem seus canais de comercialização, como mecanismo de proteção frente a uma possível dependência dos mercados institucionais, e de fortalecimento da própria resiliência. Quanto às estratégias de reação, destacou-se o papel das relações inerentes a essas cooperativas como base para a mobilização de seus cooperados, no fomento às alternativas de mercados em detrimento ao PNAE, e para a articulação com atores externos em busca de novas oportunidades de comercialização, como projetos emergenciais, políticas públicas e outros canais de escoamento. Além disso, as estratégias também envolveram habilidades da gestão em congregar alternativas que atendessem seus cooperados no escoamento da produção provisionada e nas possibilidades de (re)organização da produção. Essa habilidade alicerçou-se em relações de confiança, promovendo a coesão entre gestão/cooperados, culminando em ações que abarcassem não somente os aspectos mercadológicos inerentes às cooperativas, mas também os aspectos socioecológicos de seus cooperados. As ações coletivas possibilitaram condições para superar os entraves de comercialização decorrentes do isolamento social e da suspensão e/ou adaptação do PNAE como fator causal para perda e redução da produção durante a pandemia. Mediante isso, pode- se concluir que, a organização cooperativa, transcende a perspectiva econômica, visto que as relações estabelecidas com os atores de suas redes, e a aproximação de diferentes grupos sociais contribuíram para a reprodução social da agricultura familiar e, consequentemente, favoreceram sua resiliência como organização. Finalmente, considerou-se que as características inerentes a cada cooperativa também foram determinantes na conformação das redes e nas relações tecidas. Assim, os resultados mais favoráveis decorreram das cooperativas cujos comportamentos foram pautados numa sólida coesão entre gestão e cooperados, assim como de uma rede de interações mais bem difundida e com complementaridade entre laços fortes e fracos. Em suma, o estudo revelou que as cooperativas tiveram sua resiliência condicionada, principalmente, pelo dinamismo das organizações, em especial pelas parcerias constituídas; pela diversificação dos mercados que acessam e pela característica das lideranças que conduzem a gestão, pautadas no engajamento com seus cooperados. Palavras-chave: Cooperativa da Agricultura Familiar. Pandemia da COVID-19. Resiliência.