O objetivo desta dissertação é demonstrar como alguns dos poemas publicados em Glaura (1799) fazem da produção de Silva Alvarenga um caso emblemático da manifestação literária de dilemas culturais e sociais decisivos na história nacional. O argumento central é o de que a inclusão, em determinados rondós, de aspectos específicos das cantigas que eram produzidas à época pode ser entendida como uma tradução expressiva da tensão entre linguagem erudita e linguagem popular, das conexões entre literatura e música, da percepção do escravismo no Setecentos e da situação dos mestiços nessa quadra da colonização. O método empregado é o de análise das composições selecionadas a partir do confronto com certas modinhas de Caldas Barbosa, artista do mesmo ciclo normalmente citado como marco inicial da música popular produzida em solo brasileiro. Somado a isso, as análises decorrem de uma revisão acerca de pesquisas historiográficas sobre o século XVIII e de um cotejo dos argumentos dos principais comentadores que compõem a fortuna crítica em torno da obra em questão. O que se conclui é que se infiltram, justamente em meio ao imaginário bucólico que rege os rondós, afetos que apontam para dinâmicas sociais e extraliterárias, mais evidentes no material das modinhas. Conclui-se também que a obra de Silva Alvarenga é um caso inédito de produção do âmbito da literatura erudita que abarca componentes antes restritos à esfera da cultura popular.