O presente texto visa contribuir para a reflexão sobre os silenciamentos das características biográficas de coleções etnográficas musealizadas, especialmente no que se refere ao contexto da sua aquisição, através da análise do inventário de uma coleção Karajá no Museu Nacional do Rio de Janeiro (MN). Trata-se da coleção reunida pelo antropólogo norte-americano William Lipkind (1904-1974), aquando da sua vinda ao Brasil para realizar uma pesquisa de campo na região do Araguaia, em Goiás, entre 1938 e 1939, e incorporada no MN como parte da política nacional de fiscalização das expedições científicas no país. O questionamento acerca do registro da coleção etnográfica W. Lipkind no MN permitiu inferir sobre tempos distintos de aquisição e de incorporação, colocando em evidência os desafios de compreender esta coleção através da relação entre sujeito e objeto. Mais do que no registro do acervo, a análise da configuração da coleção teve lugar nos documentos de arquivo que salvaguardam a memória dos vínculos de identidade mantidos pelos objetos com as personagens que delineiam a sua narrativa.