RESUMO:Este artigo analisa as prováveis razões de introdução e comercialização de uma espécie de uso medicinal em um mercado popular urbano na cidade do Rio de Janeiro, Brasil -o Mercado de Madureira. Durante os anos de 2005 e 2006 aplicaram-se entrevistas semi-estruturadas a 15 erveiros obtendo-se o freelist das espécies consideradas como mais comercializadas (97) a partir do qual se calculou o índice de saliência, que para o abajurú (Eugenia rotundifolia Casar), foi elevado. A espécie conhecida na literatura e comercializada como abajurú é Chysobalanus icaco L., que apresenta propriedades hipoglicemiantes comprovadas por pesquisas farmacológicas e é utilizada pela população para este fim; no entanto, verificouse, nesse mercado, a venda quase exclusiva de E. rotundifolia, com esse nome popular e mesma propriedade. Até o momento não existem dados farmacológicos para essa espécie. Ambas são nativas e ocorrem, predominantemente, nas restingas litorâneas do estado do Rio de Janeiro. A atribuição da atividade hipoglicemiante a E. rotundifolia pode indicar uma correlação, por parte dos erveiros, com a farmacologia de outras espécies de Myrtaceae. Questões relacionadas à fiscalização ambiental bem como desconhecimento e coleta equivocada podem também estar envolvidos nesse processo.
Unitermos:Chrysobalanus icaco, Chrysobalanaceae, Eugenia rotundifolia, Myrtaceae, etnobotânica, plantas medicinais, restinga, extrativismo, mercado popular.ABSTRACT: "Abajurú (Chrysobalanus icaco L. and Eugenia rotundifolia Casar.) commercialized in Rio de Janeiro, Brazil". The present paper analyzes the commercialization of a new medicinal specie in a public market in Rio de Janeiro, Brazil. During the years 2005-2006 semi-structured interviews were made with 15 herbalists. A free list of the most commercialized species (97) was made, and calculated the salience index in witch Eugenia rotundifolia presented a high value. Chrysobalanus icaco is known in the literature as sold as abajurú, and has hipoglicemient properties, proven by pharmacological research. The local population uses this species for these properties, however in the market in question, E. rotundifolia is almost exclusively sold with the same popular name and medicinal property. Until the present time, no pharmacological data exists for this specie. Both species are native and predominantly present in the coastal formations (restinga) of Rio de Janeiro. The attribution of the hipoglicemient property of E. rotundifolia may indicate a correlation, made by the herbalists, with the pharmacology of other Myrtaceae species. The lack of knowledge, erroneous field surveys and problems related with environmental monitoring may be involved with this process.