A adaptação de uma obra literária para o cinema não se refere apenas à transposição dos elementos do texto escrito para a linguagem fílmica, mas pode dialogar com inscrições anteriores, indiciando um movimento intertextual. É o que ocorre com a obra de Clarice Lispector em uma de suas adaptações para o cinema. A partir da análise do discurso pecheutiana, o objetivo deste estudo é investigar os movimentos intertextuais e interdiscursivos no filme “O livro dos prazeres”, dirigido por Marcela Lordy, em 2020, livre adaptação da obra de Lispector, “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”, publicada originalmente em 1969. Assim, o conceito de interdiscurso possibilita uma compreensão desse processo para além da presença de um texto em outro, como apreendido pela intertextualidade. O fio interdiscursivo, no filme, possibilita a recuperação de uma memória discursiva que permite a essa adaptação fazer sentido, ampliando as possibilidades interpretativas para além do tradicional sentido de adaptação da literatura para o cinema.