RESUMO OBJETIVO. Identificar fatores associados à cesárea em mulheres com um único parto anterior por cesárea e submetidas à prova de trabalho de parto. MÉTODOS. Estudo de corte transversal retrospectivo, incluindo 1746 mulheres com uma cesárea anterior submetidas à prova de trabalho de parto no segundo parto ocorrendo entre 1986 e 1998. Foram excluídos os casos com atual gestação múltipla e/ou com malformações fetais incompatíveis com a vida. Elas foram divididas pelo tipo de parto atual em dois grupos: cesárea (n=731) e parto vaginal após cesárea (PVAC, n=1015). A análise estatística para a identificação de fatores associados ao tipo de parto foi feita por meio do cálculo da razão de prevalência (RP) e IC 95%, sendo feito também o ajuste por idade, excluindose os casos com informações ignoradas em cada análise. RESULTADOS. A taxa total de parto vaginal após cesárea foi de 58,1%. Os fatores significativamente associados com parto por cesárea foram: maior idade materna, maior altura uterina (RP 1,5; IC 95% 1,19-1,88), rotura prematura de membranas (1,3; 1,08-1,54), líquido amniótico não claro (1,22; 1,04-1,43) ou com quantidade alterada (1,32; 1,01-1,73), alteração dos batimentos cardíacos fetais (1,96; 1,68-2,28), apresentação não cefálica (2,03; 1,54-2,66), indução do parto (1,74; 1,42-2,11) e ausência de analgesia (2,57; 2,11-3,11). CONCLUSÃO. Os fatores associados ao parto por cesárea foram a maior idade, apresentação não-cefálica, rotura prematura de membranas, fetos grandes, necessidade de indução do trabalho de parto, e sinais de comprometimento da vitalidade fetal.UNITERMOS: Cesárea. Fatores de risco. Prova de trabalho de parto. Parto vaginal após cesárea.
INTRODUÇÃONo decorrer do século XX, observou-se o crescimento linear das taxas de cesárea em todo o mundo devido principalmente à diminuição da morbidade materna associada à sua realização, sobretudo após o advento da antibioticoterapia e das modernas técnicas de hemoterapia. Na década de 60, com o surgimento de novos métodos para avaliação da vitalidade fetal, foram acrescentadas às indicações maternas de cesárea aquelas por sofrimento fetal, crescendo, assim, sua popularidade e freqüência. Paralelamente, alcançou-se, no decorrer deste período, a simplificação da técnica de sua execução e a redução significativa da morbi-mortalidade perinatal 1 . No entanto, esta redução parece relacionar-se mais diretamente ao desenvolvimento da assistência à gravidez, ao parto e ao recém-nascido do que à via de parto propriamente dita 1 . Algumas evidên-cias neste sentido podem ser encontradas em países desenvolvidos, onde a mortalidade materna e perinatal declinaram, mesmo em vigência de taxas de cesárea baixas e estáveis 2 . Apesar destas considerações, a aparente correlação entre os bons resultados materno-fetais e a via de parto tem servido de argumento para o aumento vertiginoso da realização de cesáreas ao redor do mundo, principalmente no Brasil, onde seus índices podem ser considerados alarmantes, ainda que não mais ostente, atualmente, o título de "campeão ...