transitório, reforçando o alto risco de tromboembolismo na gestação 2 . Por sua vez, a incidência de hemorragia, estimada em 2,5% 1 , está relacionada em 80% dos casos ao parto e a doenças obsté-tricas nem sempre evitáveis, como abortamento espontâneo, placenta prévia, descolamento prematuro de placenta e parto prematuro. A fibrilação atrial, por ser evento habitual na história natural das valvopatias reumáticas, é situação clínica observada com freqüência na gestante cardiopata 3 . Embora a gravidez seja um período relativamente curto, o estado de hipercoagulabilidade materna favorece o aumento das taxas de embolia.2. Anticoagulação transitória é indicada em estados clínicos inexistentes antes da gestação (quadro II). Neste grupo destacam-se, pela freqüência, a trombose venosa profunda e o tromboembolismo pulmonar, causas de morbimortalidade materna, estimadas em 1 óbito para 1.500 partos 4 . A embolia pulmonar incide em aproximadamente 16% das pacientes com trombose venosa profunda não tratada, sendo que 2/3 dos eventos acontecem durante a gestação e o restante nas primeiras semanas após o parto. Também não é rara, durante a gravidez, a cardioversão elétrica, sob anticoagulação transitória, para reverter ao ritmo sinusal a fibrilação ou o flutter atrial, sendo esta considerada o método de escolha por ser mais eficiente, abreviar o período de instabilidade hemodinâmica materna e evitar a administração de outros fárma-cos. A ocorrência de tromboembolismo em pacientes com fibrilação atrial submetidos a cardioversão sem ter recebido anticoagulante prévio é estimada entre 1 e 7%, taxa que se reduz a menos de 1% quando a cardioversão é realizada sob efeito de anticoagulação 5 . A indicação de anticoagulação transitória para pacientes submetidas a repouso hospitalar prolongado é assunto controverso a despeito da presença de situações predisponentes ao tromboembolismo, como cardiopatias congênitas cianóticas, hipertensão arterial pulmonar e insuficiência cardíaca.
II. Peculiaridades dos anticoagulantes no ciclo gravídico-puerperalO uso da varfarina sódica apresenta riscos peculiares ao feto, com graus variáveis a cada trimestre. Ela atravessa a barreira placentária e é teratogênica, particularmente entre a 6 a e a 9 a semana de gestação, acarretando 1 a 3% de malformações congê-nitas caracterizadas pela síndrome varfarínico-fetal, e favorece o abortamento espontâneo em cerca de 10 a 33%. Embora o percentual de incidência seja controverso, a varfarina pode acarretar anormalidades no sistema nervoso central quando usada no 2º Os recentes consensos em muito contribuíram para minimizar potenciais riscos obstétricos e fetais e melhorar a assistência a um número cada vez maior de pacientes durante o ciclo gravídico-puerperal. Anticoagulação versus gravidez é uma associação que, freqüentemente, suscita dilema à beira do leito, vez que significa reprogramar a fisiologia da coagulação em busca do ponto de equilíbrio entre os riscos de tromboembolismo materno e os de hemorragia, inerente ao anticoagulante, conjugado aos diverso...