Os conceitos antropológicos têm histórias de vida interessantes. Sendo antropológicos, espera-se que emirjam de uma relação de alteridade e que sirvam para pensar diferenças próprias desta relação. De sua emergência até sua estabilização, transmutam-se ao atravessar diferentes paradigmas, entram em relação com referentes díspares e com epistemes diversas, implicam variadas atitudes epistemológicas e políticas, sendo sempre de alguma maneira polissêmicos, o que faz deles entidades complexas e dignas de atenção.Porém, a vida dos conceitos não é como a das pessoas: eles não nascem, amadurecem, envelhecem e morrem numa linha cronológica irreversível. Potencialmente, conceitos têm vida eterna e, ao menos enquanto a filosofia e a ciência existirem como as entendemos, eles estarão sempre disponíveis (cf. Goldman 1994:24; Deleuze & Guattari 1997:14). Prova disto é a retomada de certos conceitos que pareceram mortos por anos para a antropologia, mas que reapareceram recontextualizados, como, por exemplo, o totemismo, que de "disposição contingente de elementos não específicos", foi feito operação classificatória por Lévi-Strauss (1980), ou o animismo, que de "doutrina geral das almas" em Tylor (1970) renova-se como "modo de identificação" ou "ontologia relacional", para Descola (2005), Ingold (2006) e outros.O foco do presente texto é a biografia de um conceito, fetiche, e consequentemente