Juntamente com Caminhos cruzados, o livro do início do século xx, Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, chegou às prateleiras estadunidenses como Rebellion in the backlands em 1944, uma tradução feita por Samuel Putnam e editada pela University of Chicago Press. Nesse mesmo ano, ainda foi publicado pela Editora Farrar & Rinehart o romance A fogueira (1942), de Cecílio Carneiro, traduzido como The bonfire por Dudley Poore. Em 1945, publicaram-se as traduções de Terras do sem fim (1943), de Jorge Amado, e Inocência (1872), do Visconde de Taunay, respectivamente The violent land, vertido por Samuel Putnan, e Inocência, por Henriqueta Chamberlain. Em seguida, em 1946, tiveram vez os romances O resto é silêncio (1943), de Erico Verissimo, e Angústia (1936), de Graciliano Ramos, o primeiro intitulado The rest is silence e o segundo Anguish, ambos traduzidos por Louis C. Kaplan. O ano de 1947 fecha o ciclo de publicações de autores brasileiros nos Estados Unidos dessa década com Olhai os lírios do campo (1938), de Erico Verissimo, traduzido como Consider the lilies of the field por Jean Neel Karnoff (MORINAKA, 2017a(MORINAKA, , 2017b.Os documentos oficiais do projeto tradutório, depositados no National Archives of Records Admnistration II (NARA II), em College Park (MD), nos Estados Unidos, conduziram-me a refletir sobre a patronagem da tradução, assunto já tratado por André Lefevere (2007). A patronagem desdobra algumas implicações que precisam ser observadas e analisadas, como os jogos de poder subjacentes ao processo tradutório, o controle do governo sobre a tradução literária e a desconfiança de manipulação textual de acordo com o interesse político. O objetivo deste artigo é, portanto, apresentar um cotejo entre o texto de partida e o texto traduzido para verificar se houve reverberações desse projeto político no produto que é a tradução -o que informará não somente a acomodação de Caminhos cruzados no sistema literário estadunidense, mas a particularidade da tradução e sua representação.A metodologia comparativa foi usada para salientar as diferenças e examinar as modificações feitas no texto traduzido para que ele se adequasse às normas da cultura receptora. Além da identificação desses padrões, a hipótese interpretativa é a de que ele excedeu os limites diplomáticos e instrutivos impostos para os quais foi inicialmente pensado no projeto. Mesmo diante do papel regulador do OCIAA, na representação das nossas letras, os tradutores -os executores do trabalho e conhecedores da estrutura de ambas as línguas -tiveram autonomia na construção do texto. É possível que os editores tenham feito modificações, cortes ou acréscimos na tradução, mas é arriscado afirmar algo a esse respeito, uma vez que não tive acesso à revisão do editor sobre o texto do tradutor 1 .
o contratoAs negociações para o fechamento do contrato da tradução e publicação de Caminhos cruzados entre a Editora Macmillam e o OCIAA iniciaram-se em meados de janeiro de 1942. As várias correspondências trocadas entre Lawrence H. Levy, da Divisão Jurídica d...