Ao explicar o siginificativo excedente feminino nas populações das cidades pré-industriais da Europa Ocidental, Antoinette Fauve-Chamoux (1998) concluiu que era determinante o papel da imigração feminina, sobretudo das domésticas na formação das populações urbanas. No Brasil contemporâneo, a população urbana caracteriza-se também por um alto desequilíbrio entre os sexos: 94 homens para cada cem mulheres; 1 nas capitais, a desproporção é ainda maior (o número de homens baixa para 91 a cada cem mulheres). Nas zonas rurais, ao contrário, observa-se um considerável déficit feminino (109 homens para cada cem mulheres). O desequilíbrio entre os sexos seja entre citadinos, seja entre camponeses, não pode ser atribuído a uma natalidade ou a uma mortalidade diferenciada entre homens e mulheres, cuja variação se daria em função da população ser urbana ou rural. Ele expressa, na verdade, o caráter sexuado dos movimentos migrató-rios, a saber, uma sobrefeminilidade das trocas entre o rural e o urbano e uma sobremasculinidade dos fluxos entre o urbano e o rural (Tabela 1). Em outras palavras, o êxodo rural, que alimenta o crescimento da população urbana, é um fenô-meno majoritariamente feminino. No que diz respeito às domésticas 2 brasileiras, verifica-se que elas participam ativamente do desequilíbrio entre os sexos, pois na população urbana dos diferentes Estados do Brasil nota-se uma estreita correlação entre o excedente feminino e a presença de domésticas (Gráfico 1). Assim, entre os onze Estados que apresentam os maiores déficits masculinos na população urbana (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Distrito Federal, Rio de Janeiro), oito registram, também, a maior propor-