A discriminação não é um processo natural; ela depende do sentido interpretativo público atribuído pelas diferentes culturas. Ninguém é naturalmente ameaçador, e tanto a perseguição institucional quanto a percepção do agente ameaçador são heranças sociais históricas enraizadas no imaginário coletivo. Com foco na forma como os próprios agentes formam suas percepções acerca da discriminação institucional, a novidade é propor uma explicação para a percepção da discriminação com base na interação entre fatores não avaliados nas ciências sociais contemporâneas. As pessoas que relatam sofrer discriminação por parte dos poderes policiais possuem um biótipo específico? Como a raça/cor interfere nesse processo? Questões de ordem simbólica podem atuar como fatores preponderantes para esse sistema perverso de discriminação? A noção desenvolvida por Cesare Lombroso de "homem delinquente" afeta a percepção da discriminação policial no Brasil? Argumentamos que sim: o mito do "homem delinquente" atua como um influenciador de práticas e percepções sociais. Os resultados encontrados não refutam a hipótese de que o biótipo, associado a características raciais e de gênero, está fortemente correlacionado com a percepção da discriminação institucional.