Com o objetivo central de avaliar o processo de mobilidade social no Brasil contemporâneo, foram construídos dois indicadores socioeconômicos que mensuram a origem e o destino das pessoas, tendo por diferença básica em relação aos estudos clássicos a construção de índices com base no acesso ao bem-estar social elementar. Esses indicadores foram avaliados simultaneamente com o fator educação escolar. Observou-se que a transmissão da vantagem socioeconômica no Brasil possui um duplo caminho, (i) investimento em educação formal e (ii) transferência direta de bem-estar socioeconômico entre parentes, o segundo fator com a maior significância. Interpreto o Brasil como uma sociedade que não é meritocrática, em virtude de o poder da educação escolar em modificar os resultados dos indivíduos em fase adulta ser estatisticamente inferior ao efeito da herança socioeconômica, ao assumir que existe uma corrida entre os indivíduos por recursos e que tudo começa antes mesmo do nascimento.
O Estado pode contribuir para que as sociedades sejam pautadas pelo mérito individual, tal como é competente para diminuir a desigualdade social a partir de políticas públicas de orientação social (Esping-Andersen, 1990). Embora estes tipos de políticas existam no Brasil, o país não foi capaz de modificar o quadro de elevada concentração econômica. Isso ocorreu, em nossa avaliação, por existir um modelo de Estado social no Brasil de inclinação liberal, o que significa que não existe por aqui um sistema social de orientação universalista. Os modelos de Estados de bem-estar social, vistos ao longo do século XX, não foram suficientes, no Brasil, para modificarem as posições socioeconômicas dos brasileiros, devido à existência de um forte corporativismo e fisiologismo de algumas ocupações profissionais, que têm os seus direitos atendidos pelo Estado, e, também, por conta da alta significância da origem socioeconômica para o bem-estar social.
Este artigo avaliou as diferenças de gênero na mobilidade social intergeracional no Brasil. Mulheres provenientes de famílias de maior nível social têm maiores dificuldades em manter o bem-estar social herdado em comparação com os homens na mesma situação socioeconômica. Por outro lado, mulheres de famílias de menor status social têm mais facilidade para sair da pobreza em comparação com os homens na mesma condição social. Isso ocorre por três razões centrais: investimento e retorno ao capital humano e transferência direta de bem-estar entre parentes.
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